Big Boi é mesmo grande

Até agora era a metade mais desvalorizada na dupla OutKast, mas, no primeiro álbum a solo, Big Boi mostra que é tão grande como o cúmplice André 3000

Talvez seja altura de olharmos de outra forma para os OutKast, a dupla que elevou o hip-hop para outro patamar na última década, através de álbuns como "Stankonia" (2000) ou "Speakerboxxx/The Love Below" (2003). Até agora era sempre André Benjamin (André 3000) que era enaltecido, quando se considerava a faceta mais visionária e aventureira do duo. Era nele que se pensava, quando eram evocadas referências exteriores ao hip-hop que a dupla incorporava. Antwan Patton, ou seja, Big Boi, estava mais próximo daquilo que são os padrões clássicos do hip-hop. Talvez por isso é visto como o mais conservador do duo.

Essa divisão era particularmente sensível em "Speakerboxxx/The Love Below", o álbum duplo em que cada um assinava a sua metade. "The Love Below", de André 3000, era uma espécie de musical "Singin in the Rain" em versão contemporânea. Uma obra-prima de melodias inesperadas, romances possíveis e impossíveis e uma sensualidade funky como já não se ouvia desde o melhor Prince dos anos 80. A outra face, "Speakerboxxx", era diferente, talvez mais próxima dos cânones do hip-hop, mas com climas luxuriantes, configurações electrónicas, ritmos sincopados e as marcas de psicadelismo, em justaposições surpreendentes.

A verdade é que André 3000 é um sedutor. Big Boi não. Pelo menos não era, porque "Sir Lucious Left Foot: The Son of Chico", o seu primeiro álbum a solo, vem baralhar as coisas. É uma obra de uma jovialidade assinalável para alguém com 16 anos de actividade, e numa altura em que o hip-hop e o R&B dirigido ao centro do mercado já conheceram melhores dias. 2010 acaba por ser um ano em grande para Big Boi. Não só edita um óptimo álbum a solo, como acaba por estar implicado na descoberta de uma das revelações do ano - Janelle Monae.

Para ele o hip-hop é uma equação onde cabem tecnologia, ritmo, energia, configurações rítmicas electrónicas, climas luxuriantes e marcas de funk na linha dos Funkadelic ou Parliament. Tudo isso está presente numa obra de ritmos fantasiosos, texturas futuristas e cadências vocais perfeitas. Há uma série de convidados vocais (Janelle Monae, T.I., George Clinton ou Gucci Mane) e de produtores (Organized Noize, André 3000, Scott Storch, Lil Jon ou Salaam Remi) e o álbum foi registado de forma espaçada ao longo de três anos. Mas não se sente dispersão. Todas as faixas respiram o mesmo grau de maturidade e espontaneidade, dando ideia que Big Boi se recreou fixando todas as peças do puzzle, conseguindo fazer passar essa exuberância para este lado.

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