Menos imigrantes é igual a menor crescimento dos países mais desenvolvidos

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Os estrangeiros são os mais atingidos pelo desemprego DESIREE MARTIN/AFP

Tendência de subida dos fluxos migratórios foi interrompida em 2008. Estrangeiros, principalmente os mais jovens, são quem mais sofre com o agravamento do desemprego

Sem mais imigrantes, os países da OCDE estão condenados a marcar passo. Com a entrada de estrangeiros nos níveis actuais, a população activa dos 31 países-membros subirá apenas 1,9 por cento até 2020, um crescimento bastante inferior aos 8,6 por cento de média da última década.

O alerta, que confirma o efeito negativo das políticas restritivas de imigração para a economia, vem no International Migration Outlook, que a OCDE ontem divulgou. O relatório indica que em 2008 se fixaram noutros países 4,4 milhões de pessoas, uma quebra de seis por cento face a 2007. Foi a primeira diminuição após cinco anos de crescimento médio de 11 por cento. Mas os dados conhecidos indicam que a tendência se manteve no ano passado, quando a crise levou a uma redução da procura de mão-de-obra nos países mais industrializados.

A necessidade de abrir portas a estrangeiros para compensar o envelhecimento populacional foi assumida pelo secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, numa declaração que acompanhou a divulgação do estudo. "As actuais dificuldades económicas não vão mudar as tendências demográficas de longo prazo e não devem ser usadas como desculpa para demasiadas restrições na imigração", disse.

Uma parte importante dos imigrantes que entraram nos países da OCDE em 2008 fê-lo na qualidade de trabalhadores temporários: 2,3 milhões de pessoas, que traduzem uma quebra da ordem dos quatro por cento face a 2007, após aumentos médios de cerca de sete por cento nos quatro anos anteriores. A única modalidade de imigração em que houve um aumento foi o reagrupamento familiar, com uma evolução positiva de três por cento.

As principais descidas na imigração, de 25 por cento ou mais, verificaram-se em países como Espanha, República Checa, Itália e Irlanda, ao passo que na Dinamarca, Portugal e México o número de imigrantes subiu mais de 40 por cento, ainda que, por exemplo no caso português, os dados devam ser lidos com cautela porque traduzem a legalização de imigrantes já anteriormente residentes. Outra ressalva: os números globais da OCDE não reflectem a imigração ilegal que, só para os Estados Unidos, era em 2008 estimada em meio milhão de pessoas por ano.

O crescimento populacional dos países da OCDE entre 2003 e 2007 deveu-se em 59 por cento à imigração, valor que rondou os 90 por cento na Europa do Sul, Áustria e República Checa. Ao contrário, em França, Estados Unidos e Nova Zelândia o crescimento natural tem sido o principal impulsionador do aumento da população. Na Hungria, Alemanha, Polónia e Japão, o número de residentes tem mesmo diminuído.

Um quarto de todos os que emigraram em 2008 para os países da OCDE deslocaram-se em áreas de livre circulação de pessoas e 44 por cento fizeram-no no interior do espaço económico europeu.

O relatório indica que os estrangeiros são mais atingidos pelo desemprego do que os nacionais, em quase todos os países da OCDE, e que a situação é mais grave entre os jovens, principalmente imigrantes. Enquanto a quebra global do emprego no grupo dos que têm entre 15 e 24 anos foi de sete por cento de 2008 para 2009, o valor atingiu o dobro nos jovens imigrantes e chegou mesmo aos 15 por cento nos Estados Unidos, aos 20 no Canadá e aos 24 por nos 15 países mais antigos da União Europeia.

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