Refer trava a fundo e reduz investimento de 800 para apenas 200 milhões de euros

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Modernização da Linha do Norte ameaça eternizar-se CARLOS LOPES

Há linhas fechadas para obras que já não devem reabrir, mercê de uma política de cortes que atira o investimento da companhia para o mais baixo nível dos últimos oito anos

As restrições orçamentais e o combate ao endividamento público no âmbito do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) levaram a Refer a abandonar praticamente todos os projectos de modernização da rede ferroviária nacional, reduzindo assim o seu investimento para este ano de 800 para 200 milhões de euros.

A empresa tem apenas três grandes obras em curso. Duas são as variantes da Trofa e de Alcácer, que deverão estar concluídas, respectivamente, em Agosto e "no quarto trimestre de 2010" (segundo fonte oficial da empresa). A terceira é a modernização da Linha do Alentejo entre Bombel e Évora, que escapou por um triz à travagem a fundo porque as obras já estavam adjudicadas para começar a 1 de Maio passado, o que veio a acontecer.

Já os restantes projectos ficaram suspensos. É o caso das modernizações da Linha do Douro até à Régua (tinha 159 milhões de euros orçamentados até 2012), Linha de Cascais (81 milhões até 2012) e Linha do Oeste (99 milhões no mesmo intervalo).

A Linha do Norte vai continuar com uma infra-estrutura envelhecida a alternar com troços modernizados, estando apenas previstas intervenções na zona do Entroncamento, mas caindo para já a variante de Santarém e a modernização de Ovar-Gaia. Este último troço é o que está em pior estado, devendo ser sujeito a restrições de velocidade para se poder manter a segurança da circulação.

Neste momento a Refer tem sete linhas (ou troços de linhas) encerradas para obras, mas só há trabalhos a decorrer em três. Nos restantes quatro - Linhas do Tua, Tâmega, Corgo e ramal da Figueira da Foz à Pampilhosa - as obras estão paradas ou nem sequer começaram, sendo que em alguns casos já foram levantados os carris, não se perspectivando que estes voltem a ser colocados e que os comboios ali voltem a circular.

Trabalhos espaçados

Ao todo, são 250 quilómetros de via-férrea que estão fechados, dos quais só 104 estão realmente a ser intervencionados. Trata-se da Linha do Alentejo (37 quilómetros), do ramal da Lousã (35 quilómetros que transitarão para o Metro Mondego) e de 46 quilómetros na Beira Baixa onde só decorrem intervenções em túneis e pontes. Este último é, aliás, paradigmático da velocidade a que decorrem as obras da Refer: a linha entre Guarda e Covilhã fechou em 2009 e só reabrirá em 2012. De vez em quando têm ali decorrido alguns trabalhos.

Dos 800 milhões de euros de investimento previstos para 2010, uma terça parte era para ser aplicada em obras relacionadas com a alta velocidade, nomeadamente os acessos em Chelas e Oriente à futura terceira travessia do Tejo. Estes deverão ser prioritários para o próximo ano, descurando-se assim o investimento na rede convencional em favor do projecto do TGV.

Ao travar a fundo, a Refer ficou subitamente sobredimensionada. O PÚBLICO apurou que a empresa vai iniciar um processo de negociação com vários quadros para a rescisão de contratos e que procurará agora uma estratégia de internacionalização para poder rentabilizar os seus recursos humanos.

Contactado o Ministério das Obras Públicas e Transportes, fonte oficial disse que este recebeu da Refer propostas de reprogramação de investimentos que estão agora a ser analisadas, sendo que "qualquer decisão será sempre tomada em conjunto com o Ministério das Finanças, no quadro de restrições orçamentais ditadas pelo Plano de Estabilidade e Crescimento."

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