Torne-se perito

Morreu Jorge Fagundes, advogado revolucionário

Foi advogado toda a vida. Um homem de "grandes princípios", um anti-fascista "lutador por direitos", um sportinguista ferrenho, um homem "leal" e com "muito sentido de humor". Assim o definem os amigos, a Jorge Humberto Fagundes, que morreu na terça feira, no hospital de Santa Maria, em Lisboa, com 74 anos. Não resistiu a complicações resultantes de um cancro nos intestinos. O corpo está em câmara ardente no Salão Nobre das Ordem dos Advogados. O funeral sai às 10h45 para o cemitério dos Olivais.

Homem de "esquerda", defendeu grande número de presos políticos nos tribunais plenários durante o Estado Novo, entre os quais, Saldanha Sanches.

Depois do 25 de Abril também se destacou na defesa dos militantes do Partido Revolucionário do Proletariado (PRP), como a médica e amiga Isabel do Carmo e Carlos Antunes.

Jorge Fagundes teve fortes ligações com os advogados da geração que viveu a crise de 1962, entre os quais o ex Presidente da República, Jorge Sampaio, Vítor Wengorovius, Guilherme da da Palma Carlos e o ex ministro da Justiça, Vera Jardim que em declarações ao PÚBLICO lembra o amigo com quem conviveu ao longo de mais de 40 anos. "Era um homem de grandes princípios que gerou sempre muita amizade à sua volta".

Pertenceu ao PCP e ao MDP/CDE, tendo participado activamente nas eleições de 1969. Muitos anos mais tarde, aderiu ao PRP, tendo sido director do jornal daquele partido político de extrema esquerda, "Página Um".

Desempenhou também um papel activo na Ordem dos Advogados, tendo sido vogal do Conselho Superior nos triénios 1993/95 e 1996/1998.

O advogado Francisco Teixeira da Mota lembra o seu patrono: "Era um homem da esquerda não alinhada radical, uma pessoa profundamente generosa, muito leal e intuitiva, com enorme sentido de humor. Aprendi muito com ele", diz.

Em 1999, Jorge Fagundes foi um dos fundadores do Bloco de Esquerda e, no ano passado, foi candidato por este partido na lista para a Câmara Municipal de Lisboa.

Mas além de advogado, Fagundes era um amante do desporto. Presidiu à Federação Portuguesa de Andebol e à Federação de Futebol durante dois anos (1974/76), período de alterações legislativas importantes relativas aos jogadores profissionais. Amândio de Carvalho, vice-presidente administrativo daquele organismo nota que Fagundes "era uma pessoa de causas" e ficou conhecido como o "presidente revolucionário".

Tornou-se também conhecido como "grande sportinguista", recordam todos os amigos. Era sócio desde Janeiro de 1957, integrou o gabinete jurídico do clube na década de 80 e foi, por diversas vezes, membro do Conselho leonino. Jorge Fagundes foi ainda professor da Faculdade de Direito e do Instituto de Serviço Social depois do 25 de Abril.

Era pai da psicóloga Maria João Fagundes.

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