Inquérito independente inocenta cientistas do caso “Climategate”

Foto
Este caso desafiou a credibilidade científica climática e as conclusões do próprio IPCC Peter Andrews/Reuters

O último de três inquéritos sobre a actuação dos cientistas da Unidade de Investigação Climática daquela universidade - coordenados por Muir Russell, antigo responsável da administração pública – conclui que “o seu rigor e honestidade, enquanto cientistas, não está em causa”, segundo um relatório com 160 páginas divulgado hoje.

Em Novembro, quando a comunidade internacional se preparava para negociar compromissos de combate às alterações climáticas na cimeira de Copenhaga, foram publicados mil emails trocados nos últimos 13 anos pelos cientistas daquela unidade, sem que estes tivessem conhecimento. Os críticos disseram que os emails eram a prova de que os investigadores tinham manipulado dados estatísticos para provar a existência das alterações climáticas. A publicação da correspondência veio desafiar a credibilidade científica climática e as conclusões do próprio IPCC, sobre as quais assentavam as negociações internacionais de Copenhaga.

O inquérito de Russell diz que não encontrou “qualquer prova de comportamentos que possam ter prejudicado as conclusões nos relatórios do IPCC [Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas]”. Neste sentido, o inquérito – que durou seis meses – inocenta o coordenador da Unidade de Investigação Climática, Phil Jones, e a sua equipa das acusações mais graves.

No entanto, os responsáveis pelo inquérito criticam os cientistas por não terem sido abertos o suficiente em relação ao seu trabalho, acusando-os de serem “pouco cooperantes e muito defensivos”. “Concluímos que houve um padrão consistente de fracasso de comunicação aberta, quer dos cientistas da unidade, quer da universidade de East Anglia”, escrevem no relatório.

Edward Acton, vice-reitor da Universidade de East Anglia, disse à BBC que este inquérito “deverá pôr um fim às teorias da conspiração, inverdades e confusões que têm circulado”. O responsável admitiu também as falhas de comunicação dos seus cientistas e adiantou que já lhes relembrou sobre as suas responsabilidades.

Este foi o terceiro e último inquérito independente no âmbito do “Climategate” e as conclusões dos três são semelhantes. No final de Março foi revelada uma investigação pelo Comité da Ciência e Tecnologia da Casa dos Comuns e em Abril foi a vez do trabalho de um painel liderado pelo Lorde Oxburgh.

Além do “Climategate”, a credibilidade da ciência do clima está ainda a ser passada a pente fino, desta vez por causa do próprio IPCC. Um painel independente de especialistas começou a 14 de Maio a rever o trabalho deste organismo, especificamente o relatório publicado em 2007 e às conclusões sobre o desaparecimento dos glaciares dos Himalaias até 2035. O IPCC já tinha admitido o erro mas rejeita que existam outros. Esse reconhecimento levou a que, em Março passado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e Rajendra Pachauri, o secretário do IPCC, pedissem uma revisão dos trabalhos do organismo. Os resultados da investigação serão apresentados a 30 de Agosto.

Sugerir correcção
Comentar