Torne-se perito

Ministra diz que há dogmas a questionar

"Esta é a altura em que temos que parar para pensar""Não posso dizer que está tudo bem"

Cortes de 20 por cento na Direcção-Geral das Artes (DGA). É dos braços operativos do ministério aquele que, sofrendo cortes, mais directamente afecta a vida das pessoas ligadas à cultura.

Sem dúvida. E é o centro de actividade que queremos proteger o mais possível. Vamos direccionar para a DGA verbas vindas de outras rubricas e projectos para compensar a retenção de 20 por cento.

Não era possível um corte a não incidir no PIDDAC, que é a quase totalidade do orçamento da DGA?

É muito difícil fazer medidas específicas. Foram medidas tomadas a eito. Cegas, de alguma maneira. Tem que ser, neste contexto.

Mas o que vai acontecer agora exactamente?

Vou tentar que não chegue aos 20 por cento, com a salvaguarda de verbas que conseguimos com [a retenção de] 10 por cento permitidos por esta norma [artigo 49º do decreto de execução orçamental] a retirar a compromissos já assumidos. A todas as actividades do ministério. A nossa preocupação é salvaguardar as instituições que vivem em dependência quase total da DGA.

De onde virá exactamente esse dinheiro. Está decidido?

É uma lista enorme. Fundações, orquestras, fundos de aquisições de obras de arte... Toda a actividade cultural deste país, tirando dois ou três exemplos, tem financiamento total ou parcial do MC. Se todas as instituições contribuírem para este esforço, conseguimos manter a DGA com o mínimo de funcionamento.

Já disse que "o ministério tem que ter a coragem de diminuir o número de apoios e apostar na qualidade", deixar de se se preocupar em "satisfazer clientelas". Na gestão a fazer agora, é uma estratégia a pensar?

No meio de tanta dificuldade, se calhar podemos parar para rever mecanismos, estabelecer estratégias a longo prazo que possam ficar menos dependentes destas flutuações. Vamos empenhar-nos - já o estamos a fazer, em várias áreas - na revisão legislativa de mecanismos que suportam a política do ministério. É um período que será benéfico para uma revisão dos princípios e dogmas que damos como dados adquiridos. Eventualmente, novos caminhos se podem abrir.

Fragilidades e dogmas a rever. Por exemplo?

São muitos. Há práticas com seguimento há muitos anos e que ninguém parou ainda para questionar. Esta é a altura em que temos que parar para pensar. Perceber, por exemplo, de que forma podemos preparar o terreno, para, quando a crise for ultrapassada, termos um esqueleto cultural com capacidade de ser mais perene e fundamentado. V.R.

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