Tudo aquilo que os inovadores precisam de saber já tinham aprendido no jardim-de-infância

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Investigar o que distingue Steve Jobs dos outros Robert Galbraith/REUTERS

Os responsáveis das empresas que acrescentam bens ao mercado disponível agem como crianças de quatro anos

Associar, questionar, observar, experimentar, estabelecer relações com o outro. As cinco qualidades fundamentais que traçam a personalidade dos fundadores de empresas inovadoras assemelham-se à forma de agir das crianças de quatro anos, conclui um estudo conduzido por três académicos norte-americanos publicado na Harvard Business Review, intitulado "O ADN do Inovador".

Hal B. Gregersen, Jeffrey H. Dyer e Clayton M. Christensen estudaram os hábitos de 25 empresários e questionaram mais de 3000 executivos e 500 indivíduos que criaram empresas inovadoras ou lançaram no mercado produtos que fazem a diferença. O objectivo era perceber o que têm em comum pessoas como Jeff Bezos (fundador e presidente da Amazon), ou Steve Jobs (Apple, na foto), ou Pierre Omidyar (eBay).

No final, perceberam que os empresários inovadores têm o hábito de olhar para o mundo colocando-se "fora da caixa" e associando temas sem sentido: são senhores de uma curiosidade sem limites, mesmo que as perguntas não pareçam fazer sentido. Ou vão tirar cursos de mandarim ou praticar caligrafia, conhecimentos desnecessários para as tarefas profissionais que desempenham.

Tudo isso é visto com desconfiança no mundo adulto e torna-se mais difícil à medida que crescemos, especialmente nas empresas, mas este tipo de atitudes fazem parte do dia-a-dia de muitos jardins de infância - onde há espaço para muitas experiências, para muitos "porquês" e também para muitos erros. Igualmente importante é que os empresários de sucesso questionados neste estudo tiveram alguém que acreditava neles, salientou Hal B. Gregersen, que veio a Portugal no Sétimo Encontro Nacional de Inovação organizado pela Cotec - Associação Empresarial para a Inovação. "Não é apenas ser curioso na escola. O Steve Jobs não seria o Steve Jobs se os adultos não lhe tivessem dado atenção", defendeu este académico norte-americano, professor de Liderança na escola de negócios Insead, em Fontaineblau (França) e em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos).

Primeiro, o mais importante é associar assuntos e conhecimentos de domínios completamente diferentes: "é central" para os inovadores, é como a estrutura básica da dupla hélice do nosso ADN, sublinha o artigo publicado na Harvard Business Review, em Dezembro de 2009.

Exemplos? Pierre Omidyar fundou em 1996 a eBay (empresa de comércio e leilões na Internet) ao associar três factos sem relação entre si: estava fascinado com a criação de mercados mais eficientes, depois de uma má experiência com a venda em bolsa de uma tecnológica; a sua noiva queria desesperadamente encontrar embalagens de colecção de rebuçados da Pez; a falta de eficácia dos anúncios classificados para encontrar esses artigos.

Podemos praticar?

Em volta da capacidade de associação, há quatro padrões de acção: questionar ("o que permite aos inovadores quebrarem o status quo e considerarem novas possibilidades"); observar ("os inovadores detectam pequenos detalhes de comportamento que sugerem novas maneiras de fazer as coisas"; experimentar ("fazem incansavelmente novas experiências e exploram o mundo"); estabelecem relações sociais das mais diversas ("networking, pelo que ganham perspectivas radicalmente diferentes").

A boa notícia é que as características do ADN do inovador podem ser cultivadas: estudos já realizados em gémeos verdadeiros, que partilham os mesmos genes, demonstraram que "a nossa habilidade para pensar de forma criativa provém um terço da genética; mas dois terços das qualidades de inovação vêm através da aprendizagem". "Embora o pensamento inovador possa ser inato para alguns, pode ser desenvolvido e reforçado através da prática", concluem os autores do estudo.

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