Não bastam crianças com boas ideias, também são necessárias políticas

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Hal Gregersen

Defende que uma criança com quatro anos tem sempre curiosidade sobre tudo, um aspecto muito importante do ser inovador. Precisamos de agir como uma criança?

Há semelhanças entre uma criança de quatro anos e um inovador. Ambos colocam muitas questões, ambos observam, experimentam coisas, falam com qualquer pessoa. São ambos fantásticos em associar o que não é associável. O que se passa é que quando nos tornamos adultos passamos a fazer as coisas com uma intenção.

O Steve Jobs [presidente da Apple] estava sempre a perguntar: "O que é novo? O que vem a seguir? O que é que será fantástico para um novo grupo de consumidores?" As crianças não têm objectivos em mente. E há por isso um equilíbrio interessante num inovador: embora saiba que há um objectivo naquilo que faz, também sabe que nem sempre será imediato. Para o Steve Jobs, aprender caligrafia ganhou um sentido apenas sete anos mais tarde.

Se continuarmos a agir como miúdos que constroem uma caixa com material para jogar, diverso e imenso, em algum ponto colocamos lá as mãos e tiramos coisas que nunca teríamos feito.

E como podemos ensinar as nossas crianças a manterem-se inovadoras?

Uma das coisas que descobrimos é que muitos destes empresários inovadores que questionámos andaram em escolas Montessori (método de ensino que se baseia em dar projectos às crianças e deixá-las seguir os seus próprios métodos) e esses inovadores concluíram que isso foi importante.

Outras pessoas tiveram apoio dos pais. Larry Page, co-fundador do Google, recebeu uma prenda com ferramentas para desmontar coisas quando era novo. Pegou nessas ferramentas e foi para casa, onde desmontou todos os electrodomésticos para ver o que tinham dentro. Admito que os pais devem ter ficado um pouco zangados, mas apoiaram-no e na exploração das coisas e na tentativa de compreender como funcionavam. E, infelizmente, não vejo muitos pais a fazerem isso.

Uma pergunta interessante para uma criança quando chega da escola pode ser: "O que é que aprendeste hoje?" Uma pergunta inovadora será: "Que perguntas fizeste hoje na escola?" ou "Que perguntas não tiveste possibilidade de fazer?". Ao fazermos este tipo de perguntas a uma criança, estamos a dizer-lhe que essas coisas são importantes. Outra coisa importante é termos tempo para as ouvir quando colocam questões.

Há países mais inovadores do que outros? E de que forma isso acontece?

Há muitas razões. Descobrimos que os professores que despertam estas qualidades (não é tudo, mas é um pouco desse processo) foram mais efectivos ao ensinarem às crianças como o fazerem, ao envolverem-nas num processo de aprendizagem activa. Os sistemas escolares precisam de dar esse apoio.

A um nível económico mais vasto, precisa de haver capital de risco disponível, tal como mecanismos estruturais sem o peso da burocracia que impede as pessoas de iniciarem novos negócios. Há muitas políticas estruturantes que, se não estiverem disponíveis, mesmo que eu tenha crianças a crescer com grandes ideias não irão ter espaço para isso. Uma parte disto é serem os governos a criarem as oportunidades, parte é também os gestores de topo das organizações dizerem que algo é importante. Mais do que dizerem, é fazerem eles próprios inovações.

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