Câmara de Sintra pede explicações sobre realojamentos da Amadora no seu concelho
Vereadora da Habitação considera "infeliz e lamentável" o facto de a autarquia da Amadora estar a comprar casas em freguesias de Sintra para realojar pobres, sem sequer informar
A Câmara de Sintra vai pedir explicações à sua congénere da Amadora e ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) sobre as acções em curso para realojar no seu território famílias que residiam em barracas no concelho da Amadora. A decisão foi tomada numa reunião realizada anteontem entre a vereadora da Habitação, Paula Simões (PSD), e os 11 presidentes de junta de freguesia do corredor Amadora-Sintra.
De acordo com Paula Simões, as juntas e a câmara sentem "um profundo desconforto, e até desconfiança, com a forma como a Câmara da Amadora tratou deste assunto, adquirindo "um número indeterminado" de fogos no concelho de Sintra para realojar famílias que residiam em habitações precárias no traçado do troço da Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL) actualmente em construção entre as Portas de Benfica e Pedralvas. Desde logo, sublinha, porque a autarquia vizinha nem sequer informou a Câmara de Sintra sobre as suas intenções.
Paula Simões diz que se trata de "um processo infeliz e lamentável", mas salienta que o executivo de que faz parte só tomará uma posição definitiva depois de receber os esclarecimentos que vai pedir ao município da Amadora e ao IHRU. "Queremos saber quantos fogos foram adquiridos e onde, com que tipologias e que tipo de acompanhamento social vai garantir a Câmara da Amadora a estas famílias", acrescenta a vereadora.
No início desta semana, o vice-presidente da Câmara de Sintra, Marco Almeida, já tinha dito ao Jornal de Notícias que considerava a iniciativa da câmara dirigida pelo socialista Joaquim Raposo "um acto ilegítimo e injusto". Mais incisiva foi a presidente da Junta de Monte Abraão (Queluz), a também socialista Fátima Campos, que considerou "vergonhosa" a posição dos seus vizinhos, desvalorizando o facto de serem "muitos ou poucos" os realojamentos a fazer.
"O que me preocupa é que pode ser um precedente. Hoje são dois ou três, amanhã cinco ou dez e qualquer dia o Monte Abraão é a Cova da Moura", disse a autarca ao PÚBLICO. "O problema é que essas famílias têm carências a todos os níveis, e atrás delas vêm os problemas que têm e são muitos. O que eu pergunto é quem é que lhes vai dar apoio ao nível das escolas, dos tratamentos psicológicos, dos medicamentos ou dos funerais." Fátima Campos acrescentou que a sua junta já tem grandes dificuldades em responder às pessoas carenciadas da freguesia. "Apoiamos cerca de 500 famílias, quando, há oito anos, quando começámos, eram 150."
Em meados de Maio, a vereadora da Habitação da Amadora, Carla Tavares, já tinha anunciado a compra de 19 fogos nos concelhos vizinhos, parte deles em Queluz, explicando que se tratava de concretizar um protocolo celebrado com o IHRU e a Estradas de Portugal, entidades que financiaram 65 por cento dos 1,2 milhões de euros investidos na operação.
A Câmara da Amadora, que não respondeu às perguntas do PÚBLICO, defende há vários anos uma política de habitação assente na dispersão dos fogos de realojamento e não na sua concentração em bairros sociais. A escassez de terrenos e a falta de fogos a baixo preço no concelho têm sido as explicações avançadas pela autarquia para procurar realojar famílias nos municípios contíguos. Esta opção esteve, aliás, na origem de polémicas anteriores, sendo certo que na Amadora ainda há solos para construir e continuam a ser licenciadas grandes urbanizações.
No final dos anos 90, no segundo mandato de Edite Estrela na Câmara de Sintra, já tinham sido realojadas 40 famílias da Amadora na cooperativa Coopalme, em Algueirão. "Na nossa óptica, esse processo também não correu bem, tendo em conta que a Câmara da Amadora não assegura o acompanhamento dos moradores desses fogos", avalia agora a vereadora Paula Simões.