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Cem mulheres católicas apelam à candidatura de Bagão Félix

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Bagão Félix volta a dizer não a candidatura a Belém MIGUEL MADEIRA

Dizem que estão "desiludidas" com Cavaco Silva e defendem uma candidatura que represente "o povo católico" e os valores da família

O apelo foi anunciado ontem num almoço no Estoril e vai agora seguir por carta. Mais de cem mulheres católicas pedem a António Bagão Félix que se candidate à Presidência da República, certas de "não existem em Portugal muitas pessoas com a capacidade de representar um povo maioritariamente católico", num "tempo particularmente perigoso" em que "os valores parecem tornar-se absurdos, em muitos casos alvos a abater". Estão, dizem, "desiludidas" com Cavaco Silva, depois de o Presidente da República ter promulgado a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, sem ter utilizado o veto. Surpreendido com a notícia, o ex-ministro dos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes estima o gesto, mas não vacila na decisão que diz já ter tomado. "Respeito o apelo, fico sensibilizado do ponto de vista pessoal, mas a minha posição tem de ser compreendida. Não sou candidato, nem candidato a candidato", declarou Bagão Félix ao PÚBLICO.

O movimento Mulheres Século XXI, que tem rostos conhecidos como Isilda Pegado, reabre assim, sem subterfúrgios, a questão presidencial no centro-direita, um espaço eleitoral que seria naturalmente afecto a uma recandidatura de Cavaco Silva. Recebida com indignação, sobretudo pelos sectores católicos, a promulgação da lei do casamento gay mereceu uma reacção muito crítica do cardeal-patriarca, inconformado com justificação da crise para não ter havido veto. Então, Bagão Félix assumiu ter sido sondado para avançar com uma candidatura a Belém. Pedro Santana Lopes entrou também na liça, criticando duramente Cavaco Silva e defendendo haver espaço para uma alternativa à direita. Exclui-se da corrida, mas tem alimentado a ideia, quer em artigos de opinião, quer através do seu blogue. A ofensiva foi travada pelo líder social-democrata Pedro Passo Coelho, que reafirmou o apoio à recandidatura de Cavaco. Paulo Portas, por seu lado, garantia que, se Bagão avançasse, o apoiaria, quando o ex-ministro tinha já descartado a hipótese.

Desdramatizando as consequências políticas de uma fractura entre duas candidaturas para o campo da direita, Santana Lopes tenta desmontar os argumentos de quem entende, como Marcelo Rebelo de Sousa, que uma segunda volta nas presidenciais poria em risco a vitória de Cavaco Silva. "Sabem quantos candidatos houve na primeira volta das eleições presidenciais, em França, em 2007? Doze candidatos, quatro dos quais de direita. Passaram à segunda volta, um de direita e outro de esquerda", escrevia Santana Lopes no seu blogue na passada segunda-feira. "Em França, cujo sistema de governo inspirou o nosso, do que não há memória é de uma só candidatura, na primeira volta, de um lado ou de outro do espectro partidário", insiste o ex-líder do PSD. O PÚBLICO tentou ontem ouvir Santana Lopes, mas sem sucesso.

Após as primeiras reacções, a hierarquia da Igreja Católica remeteu-se ao silêncio, mas a "ferida" parece continuar aberta. "Estamos num grande drama, porque não sabemos em quem votar. Por isso propomos o dr. Bagão Félix, pois acredita nos valores da família", disse Thereza Carvalho, da organização do encontro em que participaram muitas das mulheres que integraram a Plataforma Cidadania e Casamento. Acusa directamente Cavaco Silva de "ter virado as costas à população católica" e vaticina mesmo que a opção que tomou no casamento gay "pelo politicamente correcto" terá custos eleitorais pesados. "Vai ter um efeito dominó na perda de votos", sustenta, confiando em que Bagão Félix repondere a sua decisão.

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