A Suíça voltou a deitar a Espanha no divã

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O desalento de Torres depois da derrota Foto: Carlos Barria/Reuters

A Suíça surpreendeu esta tarde e venceu por 1-0 a Espanha, actual campeã europeia, em jogo do Grupo H do Mundial 2010. Gelson Fernandes, aos 52 minutos, apontou o golo solitário da partida.

A Espanha voltou para o divã, do qual saiu apenas momentaneamente para arrecadar o troféu de campeã da Europa em 2008 (e em 1964) para nele se recolher de seguida – agora graças à Suíça, que terminou com uma série de 12 vitórias seguidas e infligiu à selecção de Del Bosque o segundo desaire em 50 jogos. É um estado depressivo contínuo de que os espanhóis não se livram desde o dia 27 de Maio de 1934, quando na estreia das estreias derrotaram o Brasil antes deste ser Brasil. “Um pesadelo para começar”, dizia ontem o El Mundo, “Cura de humildade”, afirmava a Marca, “Espanha cai na realidade”, contava o El País. O medo da Espanha que não passa dos quartos-de-final num Mundial está de volta.

Essa vitória por 3-1, quase centenária, parece ser o mal de todos os males espanhóis. É nos dois golos de Lángara e outro de Iraragorri que pode estar o segredo para desconstruir o temor escondido – é a sexta derrota da Espanha em estreias nos Mundiais, ganhou quatro e empatou três jogos. É também na África do Sul que a selecção “Roja” se pode e deve reencontrar. Foi aqui há um ano que perdeu a última vez, para a Taça das Confederações, frente aos EUA.

A derrota da Espanha, campeã europeia, é ainda uma maldade dos deuses, que não recompensam a estética, antes preferem quem se identifica com um futebol menor, mesquinho, mas sincero no seu aspecto de vilão. A Suíça não enganou ninguém sobre as suas intenções. A “Roja” entrou em campo com o estatuto e a reputação de candidata à vitória final e saiu de Durban diminuída, despojada dos seus galões, enrolada numa manta de dúvidas, condição que sempre lhe é cara. Em meio século, os mesmos deuses consagraram o mais belo Brasil em 1970, mas destruíram-no em 1982, como desfizeram a Holanda em 1974. A Espanha hedonista sentiu o mesmo, pelo cutelo da Suíça.

A história também não está no seu lado: apenas dois dos oito últimos campeões europeus em título lograram vencer o jogo de abertura num Mundial: a França em 1986 e a Alemanha em 1998.

O bloco impôs-se ao luxo

A Espanha rematou 24 vezes à baliza da Suíça. Uma realidade diferente na área oposta, onde Iker Casillas, que carregou a braçadeira de capitão da selecção pela primeira vez, desde que se estreou em Junho de 2002, em Gwangju, contra a Eslovénia. Diego Benaglio, guarda-redes que passou pelo campeonato português ao serviço do Nacional entre 2005 e 2008, teve bastante mais trabalho: oito dos remates dos espanhóis foram ao alvo.

Casillas participa no seu terceiro Mundial, foi o seu 19.º jogo com a “Roja” num palco tão grande como um Campeonato do Mundo, ultrapassou a marca de Zubizarreta (16), mas saiu derrotado. A Suíça finalizou apenas por oito vezes, três delas foram à sua baliza: uma bola na trave e um golo de Gelson Fernandes. Aqui também houve mão do seleccionador Ottmar Hitzfeld.

A Suíça tem, finalmente, um treinador que inspira respeito. Os jogadores respeitam-no, ele que já ganhou tudo nos clubes, campeão europeu pelo Bayern e Dortmund, um feito só alcançado por José Mourinho e Ernst Happel. Chegou à África do Sul como primeiro do grupo de qualificação, é práctico. “Se tem que defender bem, defende com sete, que é melhor do que com quatro”, disse na véspera o suíço Fabio Celestini.

Dito e feito. Na posse de bola, a vantagem dos espanhóis foi esmagadora, com 63 por cento contra apenas 37 dos suíços. Quase o triplo dos passes certos para a Espanha também: 527 contra 182. A Suíça movimentou-se mais para preencher os espaços criados pelo talentoso meio-campo espanhol – com Iniesta, Xavi e Xabi Alonso. De nada serviu à Espanha o talento e o luxo contra o bloco adversário.Gelson Fernandes foi o que mais correu. Percorreu 12,4 quilómetros e foi recompensado.

“Para ser sincero, não estou habituado a marcar golos e fiquei um bocado surpreendido”, disse Fernandes. Já Villa viu Benaglio negar-lhe o golo logo aos dez minutos. Depois foi Iniesta. A barra ajudou o guarda-redes no remate de Xabi Alonso. “É um guarda-redes de classe mundial. Foi decisivo para a nossa vitória”, disse Hitzfeld. A Suíça caiu nos penáltis no último Mundial (oitavos-de-final), sofrendo apenas um golo no torneio. E leva agora 490 minutos sem sofrer em Mundiais.

(Notícia actualizada às 22h19)

Ficha de jogo
Espanha 0
Suíça 1

Estádio Moses Mabhida, em Durban
Assistência 62.453 espectadores

Espanha Iker Casillas, Sergio Ramos, Carles Puyol, Gerard Pique, Joan Capdevila, Xabi Alonso, Sergio Busquets (Fernando Torres, 61'), Xavi Hernandez, David Silva (Jesus Navas, 62'), Andres Iniesta (Pedro Rodriguez, 77') e David Villa

Suíça Diego Benaglio, Stephan Lichtsteiner, Philippe Senderos (Steve Von Bergen, 36'), Benjamin Huggel, Tranquillo Barnetta (Mario Eggimann, 90+2'), Gokhan Inler, Stephane Grichting, Gelson Fernandes, Reto Ziegler, Eren Derdiyok (Hakan Yakin, 79') e Blaise N’Kufo

Árbitro: Howard Webb (Inglaterra)
Amarelos: Stephane Grichting (30'), Reto Ziegler (73'), Diego Benaglio (90+2') e Hakan Yakin (90+4')
Golo 0-1, Gelson Fernandes, aos 52'.

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