Deputados árabes israelitas alvo de ameaças

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Ahmed Tibi recebeu ameaças no seu voice-mail JIM HOLLANDER/REUTERS

Administração Obama alterou a definição da solução de dois estados para garantir direitos à minoria que constitui um quinto da população de Israel

"Tens 180 dias de vida e a tua morte será repentina e cruel", ameaçava uma carta. "Os teus dias estão contados, porco árabe", dizia uma voz no voice mail. "Estás morto", era a mensagem do fax. Por vários meios, deputados árabes israelitas têm sido ameaçados de morte pela posição no debate parlamentar em relação ao incidente com a frota de activistas pró-palestinianos da semana passada.

"Por causa da tua posição envenenada contra Israel e o sionismo, este grupo decidiu uma pulsa denura contra ti", dizia uma carta enviada ao deputado Ahmed Tibi. Pulsa denura é um termo vindo do aramaico que quer dizer algo como "chicote de fogo", explica o diário israelita Ha"aretz, e que já foi usado em ameaças de morte contra primeiros-ministros israelitas, como Ariel Sharon. "Tens 180 dias de vida. A tua morte será repentina e acompanhada de grande dor", acrescentava a carta.

No dia anterior, Tibi tinha já recebido uma mensagem no telemóvel: "Os teus dias estão contados, porco árabe", dizia a voz em hebraico. "Se um querido primeiro-ministro pode ser assassinado, o que custará matar-te a ti?"

O presidente da Lista Árabe Unida, Talab al-Sana, também foi ameaçado. Uma mensagem de fax anónima enviada para o seu gabinete dizia apenas: "Estás morto." O responsável também tinha sido apupado à entrada do Parlamento. Sana causou polémica ao comparar as acções dos comandos israelitas que mataram nove activistas a bordo do navio Mavi Marmara a nazis.

Para Sana, o clima em Israel era agora semelhante ao que precedeu o assassínio do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, morto por um judeu extremista em 1996.

Os árabes israelitas, que são um quinto da população de Israel, têm estado na ribalta por causa do incidente com o Mavi Maramara. Mas antes houve algumas polémicas, como a proposta do actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, que desejava obrigar estes cidadãos a fazer um juramento de fidelidade ao Estado hebraico.

Enquanto isso, no Ha"aretz, um artigo do redactor principal Aluf Benn explica como a Administração norte-americana alterou a definição da solução de dois estados de um modo subtil mas suficiente para garantir direitos à minoria árabe-israelita. Segundo a estratégia de segurança nacional, anunciada pela Casa Branca no mês passado, os EUA defendem uma solução de dois estados para o conflito israelo-palestiniano. Dois estados que vivam lado a lado em paz e segurança. "O Estado judaico de Israel, com verdadeira segurança, aceitação, e direitos para todos os israelitas; e uma Palestina viável, independente (...)." Ao especificar que o Estado judaico deve ter direitos para todos os israelitas, e não para todos os judeus, e saindo da definição de "estado para o povo judaico", a Administração Obama terá querido, diz Aluf Benn, assegurar direitos aos árabes israelitas.

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