Torne-se perito

Dívidas do Partido Socialista disparam para 35 milhões de euros em 2009

Débitos dos cinco principais partidos aumentaram mais de 40 milhões de euros durante o ano passado. Só os do PS, que foi o único a dar prejuízo, aumentaram quase 1000 por cento

O Partido Socialista devia mais de 35 milhões de euros no final de 2009, o que representa um agravamento de 32 milhões (969,6 por cento) face a 2008. As dívidas dos cinco maiores partidos totalizavam 48,9 milhões de euros no final do ano passado, contra apenas 7,8 milhões um ano antes. Ou seja, o PS sozinho já tem mais dívidas do que todos os outros juntos, substituindo assim o PSD que, em 2008, era o partido que detinha este registo. Estas são algumas das conclusões que se podem retirar da análise efectuada pelo PÚBLICO às contas anuais de 2009 dos partidos políticos, entregues no Tribunal Constitucional. O prazo para entregar as contas naquele tribunal - para que a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos as possa agora auditar - terminou a 31 de Maio.

Dos cinco principais partidos com assento parlamentar o PS é o único que fecha o ano com as contas no vermelho. O resultado líquido do exercício socialista termina com um prejuízo de cerca de dois milhões de euros. Isto depois de ter conseguido um lucro de dois milhões em 2008.

Mas os números mais assustadores estão mesmo na categoria das dívidas a terceiros. O PS tinha dívidas a curto prazo aos seus fornecedores, no final de 2009, no valor de 15,1 milhões. Também a curto prazo, acumulou 11,2 milhões de dívidas a instituições de crédito. Há ainda mais oito milhões de dívida a credores não identificados no balanço. E a este valor há a acrescentar 712.240 de dívidas a bancos, mas de longo prazo.

A seguir aos socialistas, o partido que mais dívidas tem é o PCP: os 4,2 milhões representam um acréscimo de três milhões (250 por cento) face a 2008. A seguir surge o PSD, com 4,1 milhões (mais 127 por cento), o CDS com 3,4 milhões (mais 271) e o Bloco com 1,7 milhões (mais 241 por cento).

Créditos também sobem

Paralelamente ao agravamento do endividamento verificou-se também um aumento das dívidas de terceiros aos principais partidos, ainda que a um nível inferior. E também aqui os socialistas se destacam. Dos 17,7 milhões que estes partidos têm a receber, quase 12 milhões pertencem aos socialistas, que viram esta rubrica aumentar em 10,5 milhões face a 2008. Só do Estado, o PS tem a receber 5,1 milhões. Os restantes devedores não estão identificados.

O PÚBLICO contactou o gabinete de imprensa do PS para obter uma explicação sobre este aumento. O Largo do Rato escusou-se a prestar esse esclarecimento. Uma possível explicação para estes valores são as três eleições realizadas durante o ano em causa.

No caso do PSD, a maior fatia (2,9 milhões) das dívidas a terceiros no final do ano cabia a instituições de crédito, dos quais 300 mil euros a médio e longo prazo. E, apesar disso, a direcção de Manuela Ferreira Leite fechou o ano com um resultado positivo de mais de três milhões de euros.

No caso das contas dos sociais-democratas é de salientar, no entanto, que os números das principais rubricas relativos a 2008 agora apresentados diferem dos que foram inscritos nas contas de 2008. É o caso das dívidas, que nas contas de 2008 ascendiam a 10,1 milhões de euros, o que o tornava no partido mais endividado. Nas contas de 2009, o valor inscrito relativo às de 2008 é agora apenas de 4,1 milhões.

As dívidas do PCP eram ligeiramente superiores. Todos os 4,2 milhões de euros eram dívidas a terceiros de curto prazo. Uma subida quando se compara com os dados de 2008, ano em que os comunistas declararam um milhão e 230 mil euros de dívidas a outros. Mas, tal como o PSD, o PCP terminou o ano com as contas positivas: mais de um milhão e oitocentos mil euros.

As dívidas a terceiros que o CDS declarou no final de 2009 eram de 3,4 milhões de euros. Mas no caso dos centristas, a maior parte destas (3,3 milhões) são dívidas de médio e longo prazo. Também o CDS apresentou um resultado líquido positivo na ordem dos 286.970 euros, um valor ligeiramente inferior ao registado em 2008, ano em que os centristas conseguiram chegar aos 305 mil euros de lucro.

O Bloco de Esquerda (BE) também teve lucro em 2009. Mais de 500 mil euros, contra os 177 mil euros de 2008. Mas o BE também se endividou em 2009. Do total de 1,7 milhões de euros, 650 mil reportam a instituições de crédito. 213 mil são a credores não especificados e 301 mil a fornecedores.

A maior parte dos partidos entregou a tempo as contas anuais na Entidade das Contas, o órgão do Tribunal Constitucional responsável pela sua fiscalização. Mas até quarta-feira à tarde não tinham chegado ainda à Rua do Século as contas do Partido Nacional Renovador, do PCTP/MRPP, do Partido Popular Monárquico, do Portugal Pró-Vida e do Partido Trabalhista Português.

A presidente da Entidade das Contas, Margarida Salema, explicou ao PÚBLICO que isso pode não querer dizer que estes partidos estejam em atraso. Segundo Salema, estes partidos avisaram que enviariam as contas através do correio. Restará depois à Entidade das Contas confirmar as datas dos envios da documentação quando esta chegar às suas mãos.

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