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Comentadores israelitas furiosos por Israel ter caído na ratoeira

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Amos Oz fala em "desastre moral"

Na primeira página, o diário Ma"ariv pedia a demissão do ministro da Defesa, Ehud Barak. Em coluna atrás de coluna, os analistas e comentadores israelitas mostravam irritação: e queriam perceber como é que Israel se deixou apanhar na ratoeira.

"Estamos em vias de nos tornar o Estado pária do mundo", disse ontem o escritor israelita Amos Oz (Nobel da Literatura) num comentário radiofónico à acção da véspera. "Não é apenas uma questão de imagem, é um desastre moral para Israel. Este bloqueio imposto a Gaza não serviu para absolutamente nada."

"Como é que ficámos tão burros?" perguntava, no título de um artigo no Yedioth Ahronoth, o comentador político Sima Kadmon. Como é que "Israel fez o jogo do Hamas de um modo patético e amador?", questionava Kadmon. "Num país normal, teríamos pedido a demissão de alguém. Perdão, queria dizer que num país normal alguém já se teria demitido".

No Jerusalem Post, David Horowitz sublinhava a perplexidade com a aparente contradição entre as palavras do Governo e a sua acção. Se o ministro da Defesa, Ehud Barak, tinha já descrito os activistas que seguiam no navio Mavi Maramara como pertencendo a uma "organização extremista, que apoia terrorismo", por que decidiu enviar uma força tão pequena de comandos, que ,mal estavam a descer das cordas que os deixaram no convés do navio, começaram logo a ser agredidos com paus e cadeiras de plástico?

"Nestas circunstâncias, enfrentando esta hostilidade, é difícil perceber por que é que as Forças Armadas subestimaram tanto os desafios que os soldados enfrentariam e por isso erraram tão clamorosamente, tanto na sua escolha de como impedir a frota de furar o bloqueio como no número de soldados e equipamento enviado para a batalha no mar". Ou seja, por que "não previu que os activistas e apoiantes de uma "organização extremista e violenta que apoia terrorismo" não agiria precisamente de acordo com a sua natureza?"

No diário Ha"aretz, o comentador Ari Shavit comparava esta acção com o último desastre militar israelita, no Líbano (a revolta da opinião pública obrigou à criação de uma comissão de inquérito): "Durante a guerra do Líbano de 2006 concluí que a minha filha de 15 anos poderia ter conduzido as operações melhor do que o Governo Olmert-Peretz. Fizemos progressos. Hoje é claro para mim que o meu filho de seis anos poderia ter feito muito melhor do que o nosso actual Governo."

O líder do movimento Peace Now escreveu que "se este combate naval miserável tem alguns vencedores, eles estão em Teerão, nos bunkers de Beirute ou no quartel-general do Hamas em Gaza".

As críticas vieram também de importantes figuras da diáspora. O filósofo francês Bernard Henri-Levy foi apanhado de surpresa pela notícia quando estava numa conferência em Israel. "Acho que o Israel que eu elogiei ontem, o Israel sionista e humano que eu adoro com todo o meu coração, tinha outros meios de operar em relação a estes barcos".

E dos Estados Unidos o grupo J Street pediu um inquérito imparcial à operação, saindo da defesa em uníssono de Israel feita pelas outras organizações de lobby judaicas. M.J.G.

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