“Sou o José Mourinho com todas as qualidades e defeitos”

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Dezenas de flashes dispararam quando Mourinho entrou na sala Foto: Sergio Perez/Reuters

Ao lado de Jorge Valdano, o técnico foi apresentado em Madrid como treinador do Real para os próximos quatro anos.

Mourinho desculpou-se pelo seu castelhano, ainda enferrujado. “Buenos días, quiero decir que no hablo castellano bien”. E disse, numa hora de conferência (começou às 12h02), não saber se tinha nascido para treinar o Real Madrid, mas nasceu para treinar futebol. “Gosto dos objectivos mais importantes. Impressiona-me o Real Madrid pela sua história e expectativas de ganhar. Esta é a minha paixão pelo Real, um clube único.”

“Não jogar ou treinar no Real Madrid é uma falha no currículo”, disse perante uma sala completamente lotada de jornalistas. Falou em castelhano, inglês e português. E mostrou ao que foi a Madrid: “Bonito, bonito, bonito não é jogar ou treinar no Real Madrid. Bonito. Bonito. Bonito é ganhar no Real Madrid”.

Não pensa na sua demissão, perguntaram-lhe, já que é o oitavo treinador na era-Florentino Pérez. “Todos o treinadores têm de estar preparados para treinar e não pensar na demissão. Se não estão preparados vão ter grandes dificuldades”, e explicou a razão para não temer.

“Sou um treinador com muita auto-estima”

“Sou um treinador com muita auto-estima e auto confiança. E penso o contrário [dos críticos] sobre os quatro anos de contrato: são o suficiente para ganhar e construir uma equipa com identidade. Tenho muita confiança nos meus jogadores. Se todos pensam que sou o treinador certo, agradeço a todos”, referiu.

E prometeu. “Prometo que sou José Mourinho e o que chega aqui hoje é o José Mourinho com todas as suas qualidades e defeitos”.

Sobre a sua chegada, já definiu as prioridades. “Vou fazer muitas perguntas, falar o menos possível e perceber melhor esta realidade. Diagnosticar é mais importante que decidir. Há que adaptar algumas coisas no meu modo de trabalhar. Que ninguém pense em transformações radicais, mas adaptações – não preciso de mudanças dramáticas, preciso de três ou quatro jogadores para se adaptarem a um ideal”.

José Mourinho lembrou ainda que Cristiano Ronaldo não faz uma equipa. “É um jogador importante e incrível não só para o Real, mas para todos. E penso no todo, na equipa e não nas individualidades. O mais importante é o clube e não os jogadores. Se todos perceberem isso não vai ser difícil obter resultados”.

“Não peço tempo”

Já vem sendo tradição e Mourinho não foge nem às perguntas, nem aos objectivos imediatos que o clube pretende. “Os objectivos são os mesmos: construir o presente e o futuro. Colocar pressão que gostamos sobre nós próprios. Não pedimos tempo. O segundo ano de trabalho é o ano-chave onde se encontra o equilíbrio do crescimento da equipa e o dos conhecimentos do treinador”, disse.

E exemplificou. “Foi no segundo ano no FC Porto que ganhámos a Champions, foi no segundo ano que vencemos a Champions com o Inter. Foi no segundo ano que fomos às meias-finais da Champions com o Chelsea. No primeiro ano, vencemos os campeonatos...”.

“Sou José Mourinho, trabalho bem e muito. Nos limites. Vou ser igual a mim próprio”. Depois, gostou que Valdano tenha defendido Pellegrino até ao fim.

“Quem não defende os seus treinadores até ao fim são pessoas perigosas. Devem defender os treinadores até ao último dia. É normal. E é essa honestidade que peço a Valdano”, afirmou.

“Não sou anti-barcelonista”

Mourinho passou nesta manhã de segunda-feira pelo centro de treino do Real. E falou com alguns jogadores, entre eles o capitão Raúl. “Não perdi tempo. Já falei com ele esta manhã, quando ele estava a treinar”, e lançou o recado. “Entre jogador e treinador, a imprensa não entra”. Mas lembrou: “Ainda não fiz nada pelo Real, Raúl está na história do Real. Quem não está na história deve respeitar quem está. Não posso tratar o Raúl como um jogador qualquer”.

Sobre ser uma pessoa pouco querida em Barcelona, Mourinho encolheu os ombros. “Não sou anti-barcelonista. Sou treinador do Real e não do Barcelona. Não me preocupa o Barcelona, que é um grande rival na Champions e nas provas domésticas, se sou odiado em Barcelona não é problema meu”, reagiu. E lembrou que irá preparar os jogos com o Barça de igual que os preparou nas suas anteriores equipas. “Preparei os jogos de igual forma como fiz com o Chelsea e o Inter. Fiz 10 jogos em 5 anos”.

“Não sou um provocador, sou um trabalhador”

A quem lhe chama provocador, Mourinho responde que apenas defende o grupo. “Não sou um provocador, sou um trabalhador. E quem trabalha assim tanto, ganha respeito. Se temos respeito, perfeito. Se não, tenho que defender o meu grupo. Mas não sou provocador”.

E voltou a não prometer títulos, mas sim trabalho. “Não posso prometer que vamos chegar longe na Champions. Futebol é futebol. O que posso dizer é que o Real Madrid não cabeça-de-série, mas no momento do sorteio o medo não será nosso e sim de quem tiver que jogar com o Real Madrid. Jogaremos contra o Inter, Chelsea ou Bayern mas não quero medo no meu balneário e sim no dos adversários”, confessou.

"Não sou defensivo, ganhei três finais e marquei oito golos"

O novo treinador dos “blancos” respondeu, em tom mais áspero, às perguntas sobre o seu estilo de jogo, defensivo. “É interessante. Joguei em três finais, uma da UEFA e duas da Liga dos Campeões. Ganhei as três e em três jogos marcámos oito golos. São três finais europeias, não três jogos do campeonato. O que se passa é que cada vez que se repete uma mentira muitas vezes, para as pessoas inteligentes essa mentira será sempre uma mentira, para aquelas que não são inteligentes essa mentira transforma-se em verdade. Por sorte, no futebol há mais pessoas inteligentes que não inteligentes”, sublinhou. E fez questão de explicar o seu jogo.

“Uma coisa é organização de jogo e outra é o jogo defensivo. Quando uma equipa está organizada, defende bem; e quando está organizada pode jogar ao ataque e ir defendendo bem”, afirmou.

Mourinho não escondeu as suas qualidades. “Não sou um falso humilde”, respondeu quando lhe perguntaram sobre se era o melhor treinador do mundo. “Existe um grupo de treinadores com qualidade e sorte que são os melhores. Depois da temporada, os resultados decidirão quem é o melhor”, respondeu, aludindo aos três títulos conquistados recentemente pelo Inter.

E diz que a obra que deixou no clube facilitará ao futuro treinador dos “neriazzurri”. “Qualquer um que chegue seguirá uma trajectória com possibilidades de êxito porque o que deixei dá hipóteses a qualquer um de ganhar três títulos: Taça, Supertaça e a Taça Intercontinental”.

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