Juiz inquire testemunha sobre reunião com Proença de Carvalho

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Proença de Carvalho é o advogado dos dois arguidos da Ferrostaal enric vives rubio

Testemunha do caso dos submarinos confirma que o negócio Opel/Simoldes foi feito antes da intervenção da Ferrostaal, mas inscrito como contrapartida

Uma testemunha alemã no caso dos submarinos declarou ontem no tribunal que Daniel Proença de Carvalho, o advogado que defende os dois arguidos da Ferrostaal, o chamou ao escritório na antevéspera da inquirição e que tiveram uma reunião, em que participou a arguida Antje Malinowski, para recuperar a memória de factos que ocorreram há 10 anos.

Bodo Heise, antigo administrador delegado da VW Autoeuropa, referiu-se à deslocação ao escritório Uría Menendez-Proença de Carvalho, após ter sido inquirido pelo juiz de instrução, Carlos Alexandre, sobre a sua actividade já como consultor em 2000 e uma pasta de documentos que tinha colocado em cima da mesa. Em causa estava o período de Fevereiro a Dezembro de 2000, em que, já afastado da Autoeuropa, prestou serviços de consultoria para a Acecia, o agrupamento de empresas do sector automóvel ao qual pertencem os sete gestores acusados pelo Ministério Público de falsificação de documento e burla qualificada em projectos de contrapartidas dos submarinos.

Bodo Heise, testemunha arrolada pelos gestores alemães da Ferrostaal, alegou ter desenvolvido na altura uma ponte entre empresas da Acecia, alemãs e outras, enumerando contactos a partir de uma lista que lhe tinha sido fornecida por Proença de Carvalho, e da qual se socorria, explicou, devido ao tempo que já passara. Assegurou ao juiz que a lista era de empresas que ele próprio contactara mas que "havia outras para além destas".

Na inquirição, Bodo Heise, que testemunhou com a ajuda de uma intérprete, pediu para alterar quatro pontos do seu depoimento anterior no DCIAP, alegando que estava "mal traduzido". Em três pontos, favoreceu a ideia de que a Ferrostaal - responsável dentro do German Submarine Consortium pelo cumprimento do contrato de contrapartidas - teve um papel mais próximo na geração de novos negócios para as empresas da Acecia, como contrapartida pela compra dos submarinos pelo Estado português. O quarto ponto foi para sublinhar que interrompeu a sua ligação à Acecia no fim de 2000 por ter ido trabalhar com uma entidade de Hamburgo.

O Ministério Público acusa os gestores de terem apresentado negócios que já decorriam e não tiveram o envolvimento da Ferrostaal, logo, sem causalidade e, por isso, não-elegíveis para efeitos de contrapartidas.

Bodo Heise citou uma reunião em que um quadro superior da Ferrostaal participou e não apenas uma técnica e um outro encontro em que não esteve nenhum representante da Ferrostaal, mas, ao contrário do passado, admite que terá tido "influência" depois no processo. Para o juiz, a ligação entre a Ferrostaal e as empresas traduzia-se numa "influência volátil".

Questionado pela procuradora do Ministério Público, Auristela Pereira, sobre uma reunião com a Opel para firmar um negócio de contrapartidas, mas que já decorria por iniciativa da Simoldes, o ex-consultor da Acecia confirmou que "o negócio existia antes da reunião". Este é um dos negócios investigados e que constam da acusação.

Pouco antes, outra testemunha arrolada pelos alemães e quadro da Man contou ter-se encontrado na véspera no Hotel Ritz, em Lisboa, com Antje Malinowski, e que esta lhe apresentara Horst Weretecki, que foi vice-presidente da Ferrostaal e nos últimos anos responsável pelo contrato de contrapartidas dos dois submarinos comprados pela Marinha portuguesa.

Horst Weretecki esteve preso preventivamente mais de um mês, na Alemanha, indiciado por crime de corrupção e foi libertado quarta-feira. Ontem, no tribunal central de instrução criminal, Michael Goetz testemunhou que se encontrou com o gestor no dia seguinte em Lisboa.

No tribunal, o advogado de defesa dos arguidos alemães, Godinho de Matos, do escritório de Proença de Carvalho, esclareceu que não tinham vindo no mesmo avião.

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