Torne-se perito

Exportações têxteis "encolheram" 32 por cento

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Concorrência da China devastou o sector têxtil paulo ricca

"O sector têxtil e vestuário português está em perda continuamente, ao longo dos últimos anos, uma espécie de queda livre, em que por vezes parece acelerar outras vezes abranda, mas que ainda não terminou e ninguém pode prever quando o fará." Este diagnóstico foi feito por Daniel Bessa, professor universitário e ex-ministro da Economia, e por Paulo Vaz, director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, no final de 2007, no plano estratégico para o sector.

Dois anos depois, Paulo Vaz garante que a radiografia é a mesma. A grande quebra das exportações do sector, em cerca de mil milhões de euros, ou perto de 20 por cento, entre 2001 e 2006, é maioritariamente explicada pela gradual liberalização das exportações chinesas, no âmbito da sua adesão à liberalização mundial do comércio.

Em 2005, e perante o choque dos produtos asiáticos - agravada em Portugal pela saída do investimento estrangeiro e pela deslocalização das encomendas de grandes clientes (Zara, Benetton, entre outros) -, a União Europeia reintroduziu alguns limites aos têxteis chineses por mais dois anos. Mas a partir de 2007 dá-se a liberalização total, esmagadora em quantidade e em preço, já que, garante Paulo Vaz, há produtos acabados que chegam à Europa a preço mais baixo que o custo da matéria-prima.

Olhando para trás, Paulo Vaz admite que o sector "pagou e está a pagar um preço muito alto" pela forma como a Europa "sacrificou" o têxtil e o calçado no processo de negociação. O modelo em que assentava, o da mão-de-obra barata e de dependência da subcontratação, estava irremediavelmente perdido, mas isso não explica toda a perda de competitividade do sector português e europeu. O dirigente sustenta que, ao dumping social e ambiental, a China juntou a fixação administrativa dos preços e uma desvalorização do yuan, o que arrasou os seus competidores.

Paulo Vaz destaca que, no processo de negociação com a China, a Europa prescindiu da reciprocidade de acesso aos mercados: os produtos chineses pagam sete por cento de direitos; os europeus pagam 35 por cento para entrar na China. O Brasil cobra entre 35 e 50 por cento. E lembra que os Estados Unidos não foram "tão generosos".

De 2001 a 2009, as exportações do têxtil português caíram 32 por cento. A balança comercial do sector é positiva e é responsável por 11 por cento das exportações nacionais.

O sector do calçado tem conseguido resistir um pouco melhor à queda das exportações, perdendo quase 25 por cento entre o máximo de 2001 e 2009, e está mais internacionalizado. Esta indústria viveu sempre em regime de concorrência aberta, com a China a invadir, desde há muito, a Europa com produtos de baixa qualidade, a preços imbatíveis.

Há mais de duas décadas, o sector decidiu eleger o calçado italiano como seu rival e, ao nível do preço médio/par, a diferença está a esbater-se: 23 contra 20 euros nacionais,

Paulo Gonçalves, porta-voz da associação do sector, a APICCAPS, explicou ao PÚBLICO que a quebra das exportações - que começou a partir de 2001, quando atingiu 1,5 mil milhões - explica-se, em mais de 80 por cento, pela saída de grandes multinacionais, à procura de salários mais baixos. A modernização e a aposta na criação de marcas próprias e na internacionalização permitiram que as empresas portuguesas compensassem, em grande parte, a saída das multinacionais. Neste momento, 60 por cento das exportações de calçado português são marca própria, adianta Paulo Gonçalves. Nos últimos dez anos (1998-2008), a quota da produção na Europa aumentou de 8,5 para 10,5 por cento. Rosa Soares

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