Todas as semanas há um movimento de protesto que cresce mais um pouco em Israel

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A cena repete-se: os israelitas protestam e a polícia prende-os AMMAR AWAD/REUTERS

De uma mão-cheia de activistas os protestos de Sheikh Jarrah cresceram para centenas de manifestantes todas as sextas-feiras. Eles garantem que a democracia no país está em perigo

Todas as sextas-feiras acontece a mesma coisa. Um grupo de entre 300 a 500 activistas junta-se em Sheikh Jarrah, Jerusalém Oriental, com cartazes a favor de um acordo de paz entre israelitas e palestinianos. A polícia detém alguns dos manifestantes, que têm de passar o fim-de-semana na prisão, até serem levados a tribunal. O juiz classifica a detenção como ilegal, e eles são libertados. Mas na semana seguinte, o processo repete-se.

Isso é que indigna a jornalista Lisa Goldman e a faz dizer que é "notório e documentado" que o Governo israelita está, cada vez mais, a limitar a liberdade de protesto dos seus cidadãos.

Lisa Goldman, canadiana com cidadania israelita, assiste às manifestações como jornalista. Já Gershon Baskin, do IPCRI, um think-tank israelo-palestiniano, vai mesmo protestar, pelo menos uma vez por mês. "As pessoas acham que a democracia israelita está em perigo", explica - e é isso que está a levar cada vez mais israelitas a Sheikh Jarrah. Há ainda acontecimentos mais mediáticos, como a proibição de entrada em Israel do académico norte-americano Noam Chomsky, a contribuir para esta percepção.

Mas não será isto um exagero? Afinal, esta não é a primeira história de limitação de entrada de pessoas em Israel, nem de limitação de manifestações. "O problema não é novo, mas há um sentimento na sociedade de que o Governo de extrema-direita está a levar as coisas longe de mais", garante Gershon Baskin.

"Há coisas que não aconteciam antes. A polícia tem estado a limitar a capacidade das pessoas se manifestarem. E todos os dias há pessoas que são proibidas de entrar em Israel. Ainda agora uma dinamarquesa que tinha cá estado como voluntária tentou regressar e não conseguiu", conta.

É preciso explicar como começou este movimento: em Dezembro passado, com pequenas manifestações de activistas israelitas, e alguns estrangeiros, contra a expulsão de várias famílias palestinianas das suas casas em Sheikh Jarrah. São famílias que tinham recebido casas das autoridades jordanas depois de 1948 - e agora foram expulsas para que judeus possam voltar a viver no local. Isto seria justo, diz Baskin, se as famílias palestinianas que saíram de Jerusalém Ocidental (ou outras cidades no que é hoje o Estado de Israel) pudessem também reclamar as casas de onde saíram após a criação do Estado judaico, o que não acontece.

"Estas medidas são um modo de o Governo impedir que num acordo de paz os palestinianos fiquem com Jerusalém Oriental. E sem isso não pode haver acordo", sublinha Baskin.

Mas as autoridades reagiram a estes protestos, e a polícia tem detido uma série de líderes do movimento, mesmo que estes cumpram as regras - as manifestações realizam-se ao fim-de-semana (em Israel o fim-de-semana é sexta e sábado) e não perturbam a ordem pública. Assim, aos que protestavam a favor dos palestinianos e por um acordo israelo-palestiniano (um dos manifestantes pede mesmo: "Obama please force peace on us") juntaram-se aqueles que reclamam liberdade no Estado hebraico.

Os protestos contam com figuras de peso: o escritor David Grossman está lá todas as sextas-feiras, assim como o ex-líder do partido Meretz Yossi Sarid, e o antigo deputado trabalhista Avraham Burg, diz Lisa Goldman.

E, muito importante também, os protestos começaram a ter participação não só de israelitas mas também de palestinianos moderados. "Os palestinianos não se costumam manifestar ao lado dos judeus. Estamos a ver isso em Sheikh Jarrah", nota a jornalista.

Há quem apresente esta tendência como "o novo modelo" de protestos não violentos que se replica pela Cisjordânia. "É um movimento que está a crescer", diz Beskin.

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