Silva Pereira tinha informação privilegiada sobre PT/TVI

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Segundo o BE, o ministro da Presidência estava melhor informado do que os administradores da PT Daniel Rocha

O deputado bloquista João Semedo, relator da comissão de inquérito ao negócio PT/TVI, defende que o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, "dispunha de informação privilegiada, sabendo primeiro da evolução do negócio do que os próprios administradores da PT".

Esta leitura deve-se às declarações de Silva Pereira a 25 de Junho, após o Conselho de Ministros. Aos jornalistas, o ministro começou por afirmar que o Governo não possuía "qualquer informação sobre o negócio". Mas logo a seguir disse: "Os intervenientes no processo dizem que não há perspectiva de negócio."

A partir desta afirmação poder-se-á deduzir que o Governo já tinha conhecimento de uma informação que alegadamente estaria apenas na posse de Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Luís Pacheco de Melo e Rui Pedro Soares - situação confirmada pelos próprios na comissão. Por isso, amanhã, na reunião de coordenador, o Bloco vai requerer a audição do ministro.

Em resposta a duas questões enviadas pelo PÚBLICO a todos os grupos parlamentares (todos responderam, com a excepção do PS) - quais os indícios que considera apurados e que podem justificar consequências políticas -, Semedo notou ainda que as audições realizadas e a documentação analisada permitem concluir que Sócrates "não contou" a Granadeiro aquilo que "decidira e combinara horas antes" com o ex-ministro Mário Lino, sobre "o futuro do negócio". E, até ao fim do inquérito, "perceberemos melhor o que queria exactamente dizer Armando Vara quando afirmou que, se todo o país sabia, era natural que Sócrates também soubesse, mesmo que informalmente".

Quanto aos resultados políticos, Semedo é peremptório: "Não compete à comissão retirar ou propor consequências políticas", mas antes "identificar e confirmar factos, a partir dos quais tira conclusões". Também o PSD, o CDS e o PCP preferem não antecipar efeitos políticos, sublinhando que nesta fase a comissão deve "concentrar-se nos factos", afirmou o deputado social-democrata Pedro Duarte, e aguardar as respostas do primeiro-ministro, apontou Cecília Meireles, deputada do CDS.

Nas respostas da oposição existe um outro tema convergente: Rui Pedro Soares, ex-administrador da PT e militante do PS. "Os factos apurados apontam Rui Pedro Soares como uma peça central em várias tentativas de controlar a TVI, através da PT ou da Taguspark, não tendo o seu envolvimento sido integralmente justificado por motivos empresariais", afirma João Oliveira, do PCP. Também Pedro Duarte acredita que é "absolutamente clara a participação" de Soares em "todas as ofensivas" para controlar a TVI. "É clara a confusão deste pivot do negócio, entre funções empresariais e interesses partidários", acrescenta, frisando que os resumos das escutas requeridas pelo PSD (ver caixa) poderão "confirmar ou desmentir o envolvimento ainda mais directo do Governo e do primeiro-ministro".

Apontando a "estranha coincidência de pessoas e objectivos" em torno do negócio PT/TVI, Cecília Meireles, do CDS, diz que Soares, "ora como administrador da PT, ora como administrador da Taguspark, e algumas vezes mesmo à revelia de qualquer das empresas", esteve sempre no "epicentro" de um acordo que já estava "bastante avançado" e "prestes a ser assinado".

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