Das tabernas ao futebol

Uma das características do noticiário do operador público mais assinalada em discursos políticos e alguns académicos é a regularidade do seu principal noticiário: todos os dias, às 20h00, o Telejornal seria o companheiro e evangelizador da nação reunida as one man, como dizia o primeiro director-geral da BBC, John Reith. Mas isso era dantes. Este ano, em 118 emissões do Telejornal, dez por cento não cumpriram o horário. Motivo: futebol.

A RTP1 vive encostada ao futebol e isso nota-se, não só no quebrar do seu ritual noticioso, mas também no peso da bola na programação. A presença dos três "maiores" clubes nos noticiários das 13h e das 20h é sufocante e visa em primeiro lugar granjear audiência. Entretanto, a informação da RTP despreza o Sporting de Braga, equipa que, ou liderou o campeonato, ou esteve em segundo lugar. Desprezar o Braga é desprezar a verdade e a ética jornalística, pois esta equipa deveria atrair uma cobertura jornalística equivalente aos resultados desportivos e não às audiências. O provedor da RTP recebeu queixas por este enviesamento da informação da RTP, mas nada mudou.

O objectivo é manter os cidadãos entretidos com a bola e seus clubes "maiores", para não se lembrarem da crise e do Governo que nos pôs nela. Balzac dizia em 1834 que, se não fosse pelas tabernas, o Governo seria derrubado em França todas as terças-feiras. Hoje é o mesmo. Sem o futebol na televisão, este Governo cairia todas as terças-feiras.

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