Leonard Cohen, Live At The Isle Of Wight 1970: um fantasma

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Perante 600 mil a sonhar com uma utopia, Cohen surgiu de madrugada com corpo de fantasma e ofereceu-lhes com tanta ternura quanta crueldade o mundo como ele é.

Leonard Cohen, Live At The Isle Of Wight 1970
De Murray Lerner
2 Maio, São Jorge, Sala 3, 18h45

Há horas que Leonard Cohen esperava para entrar em palco, há dias que o festival descambara. 600 mil na Ilha de Wight reclamando que o festival fosse gratuito. Gente atirando pedras à polícia e a polícia atiçando os cães à gente. Enquanto isso, os concertos, cinco dias deles. "É bom estar sozinho em frente a 600 mil". Eram 4 da manhã e Leonard Cohen, 35 anos, chegava para acalmar a multidão. Deu conselhos como se fosse um deles, o mais velho e mais sábio de todos: "somos uma grande nação, mas ainda somos muito fracos". Canta "The stranger song", "Suzanne" ou "The partisan". Kris Kristofferson, entrevistado hoje, diz não saber "porque não o expulsaram como a tantos outros" (como a ele).

O documentário de Murray Lerner não oferece uma resposta definitiva. Perante aqueles 600 mil a sonhar com uma utopia, Cohen surgiu de madrugada com corpo de fantasma e ofereceu-lhes com tanta ternura quanta crueldade o mundo como ele é. Talvez tenha sido isso. "Seems so long ago, Nancy" foi a última canção. Aquela sobre a rapariga que rebentou a cabeça com o revólver do irmão.

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