"O melhor é comprar protectores de ouvidos"

De Wet Swanepoel, investigador da Universidade de Pretória, é um dos autores do estudo publicado no South African Medical Journal sobre os perigos das vuvuzelas para a audição, trabalho em que colaborou com James Hall, da Universidade da Florida. Swanepoel falou ao PÚBLICO por telefone, aconselhando os adeptos a usarem protecção nos ouvidos. Sobre o facto de os jogadores poderem ser afectados, preferiu não especular, alegando que o estudo não incluiu medições no relvado.
Seria melhor se a FIFA proibisse a utilização de vuvuzelas nos estádios, como foi pedido por alguns jogadores e cadeias de televisão após a Taça das Confederações, em 2009?
É uma pergunta difícil, porque a FIFA já as aprovou. E a vuvuzela é uma parte importante da cultura do futebol sul-africano, pelo que seria difícil bani-las dos estádios. A vuvuzela é algo que ajuda a tornar único o futebol na África do Sul. Mas estamos preocupados com a audição das pessoas.
A melhor solução para quem for ao estádio é levar protecção nos ouvidos?
O melhor é adoptarmos medidas preventivas. Como a FIFA já aprovou as vuvuzelas e elas fazem parte da nossa cultura, o melhor é usar protectores de ouvidos, daqueles que se podem comprar na farmácia. A nossa mensagem é que as pessoas devem saber que as vuvuzelas são muito ruidosas. E se alguém soprar numa vuvuzela mesmo ao nosso lado isso é suficientemente alto para causar perdas de audição. As pessoas não se devem aproximar muito das vuvuzelas.
Os adeptos ficam no estádio duas a três horas. Esse tempo é suficiente para sofrerem danos na audição?
O que o nosso estudo mostra é que, em duas horas de exposição, as pessoas já sofreram algumas mudanças na audição. Algumas pessoas são mais afectadas do que outras. Há quem só com estas duas ou três horas possa desenvolver algum nível de surdez, mas outras não. E há estudos anteriores que provam que as crianças são mais vulneráveis. H.D.S.

Vuvuzela pode provocar danos auditivos nos adeptos

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Se for soprada muito perto de um ouvido, a vuvuzela (corneta) pode causar danos nos ouvidos Reuters

A vuvuzela é uma corneta de plástico que emite sons semelhantes ao de elefantes e outros animais. É ruidosa e faz parte dos hábitos dos adeptos de futebol na África do Sul. São muitos os que adoram a atmosfera única proporcionada pelo som de milhares de vuvuzelas num estádio. Mas também há os que consideram este som irritante e desestabilizador. Agora há mais um dado para juntar ao debate. As vuvuzelas podem causar danos graves na audição dos adeptos, alerta um estudo publicado na edição deste mês do "South African Medical Journal".

"O resultado do estudo demonstra o risco real de perda auditiva", lê-se nas conclusões dos investigadores De Wet Swanepoel (Universidade de Pretória) e James Hall (Universidade da Florida), que já tinham revelado alguns dados preliminares.

O estudo incluiu testes auditivos a 11 adeptos antes e depois de um jogo de futebol com 30.000 espectadores, bem como medições do ruído no estádio. Durante duas horas, os adeptos estiveram sujeitos em média a 100 decibéis, algo equivalente a um concerto de música, e houve picos de 144 decibéis, para quem estava a soprar ou muito perto da vuvuzela.

Isto quer dizer que uma vuvuzela pode causar surdez? Sim, no caso-limite de um som prolongado muito perto do ouvido. António Sousa Uva, professor da Escola Nacional de Saúde Pública, explicou ao PÚBLICO que "140 decibéis estão no limiar da dor e causam a morte de células no órgão auditivo", provocando danos que variam consoante a sensibilidade da pessoa.

O estudo agora publicado diz que, após o jogo, foi detectada "uma significativa" redução da sensibilidade auditiva dos 11 adeptos. E alerta que, durante o Mundial deste ano, haverá jogos com 90.000 espectadores e níveis de ruído ainda mais elevados.

O maior perigo, porém, acontecerá se alguém estiver demasiado perto da vuvuzela, já que o ruído do estádio não será muito diferente do que se verifica em concertos de música, diz Sousa Uva: "Eu pessoalmente levaria protectores auriculares."

O Mundial mais ruidoso

A vuvuzela, que pode ter tido origem no chifre de kudu (um antílope) que antigamente era usado na África do Sul para chamar os habitantes das aldeias para as reuniões, tem sido um dos ícones do Mundial deste ano e há até quem a utilize como instrumento musical. Nada como espreitar o YouTube para perceber o tipo de sons que podem sair desta corneta - que exige alguma aprendizagem para que o sopro produza algum som.

Em Junho de 2009, surgiram os primeiros protestos, na Taça das Confederações. Xabi Alonso, médio da selecção espanhola, chegou mesmo a pedir que fossem proibidas nos estádios e os operadores de televisão queixaram-se que o som destas cornetas atrapalhavam os comentadores e os telespectadores. A FIFA recusou imediatamente qualquer proibição - " a vuvuzela é parte da cultura africana", disse Joseph Blatter - e a imprensa sul-africana atacou os críticos: "Se não aguentas o calor, não entres na cozinha", escreveu o jornal The Sowetan.

Indiferente aos críticos, o seleccionador da África do Sul, Carlos Alberto Parreira, já pediu aos adeptos que "soprem as vuzuzelas o mais alto possível" e Danny Jordaan, presidente do comité organizador da prova, garantiu que este será "o Mundial mais ruidoso de sempre".

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