Torne-se perito

Lino diz que não indicou Rui Pedro Soares para administrador nem falaram sobre a PT

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Ex-ministro afirma não se ter oposto a nenhum nome de administradores Pedro Cunha

Antigo governante garante que não tinha qualquer informação vinda da PT sobre a negociação com a Prisa e que no dia 26 de Junho de manhã comunicou a Granadeiro a oposição à compra

Nunca falou com Rui Pedro Soares nem com nenhum outro administrador da Portugal Telecom sobre a telefónica e muito menos sobre a TVI. Quando queria informações sobre os negócios da principal telefónica portuguesa, o ministro das Obras Públicas do anterior Governo relacionava-se ao patamar mais elevado: falava com o presidente da comissão executiva (CE), Zeinal Bava, ou o do conselho de administração (CA), o chairman Henrique Granadeiro. Mas também não foi nas reuniões com estes que alguma vez foi abordado o assunto PT-Media Capital. Mário Lino diz até à exaustão que nunca falou com ninguém da empresa sobre o assunto.

Com os administradores sim, almoçava, e conversava, "por vezes passavam lá no ministério para me cumprimentar" - como Rui Pedro Soares, com quem se lembra de ter trocado impressões desportivas (ele é benfiquista, Soares portista) e até mais pessoais, como os problemas da mulher do gestor durante uma gravidez. Porquê tais pormenores? Porque Mário Lino foi questionado pelos deputados sobre uma reunião com Soares a 22 de Junho. Disse que nesse dia a sua agenda só tem ginásio (8h00-9h00) e um almoço com Paulo Campos ao meio-dia. Mas que o administrador da PT "pode ter passado por lá para conversar".

Mário Lino foi ontem o protagonista do arranque das audições da comissão de inquérito ao negócio da TVI, mas deixou aos deputados pouco mais do que já tinham ouvido nas longas sessões da comissão de ética. Repetiu várias vezes que ouviu falar do interesse da PT na TVI por uma notícia a 23 de Junho, mas não conseguiu explicar por que, sendo o ministro da tutela, demorou três dias a contactar a PT. E quando o fez nem foi para perguntar o que se passava.

O antigo ministro contou que, depois de instalada a polémica - que incluiu até comentários de Cavaco Silva -, no dia 25 combinou com o primeiro-ministro que não estavam de acordo que o negócio se fizesse por causa das "repercussões políticas" anormais. "No dia 26, muito cedo, reuni-me com Granadeiro e Zeinal Bava. Foi tão rápido que nem nos sentámos e disse: "Olhe, face a este sururu que se está a levantar de que o Governo poderá estar por trás da PT, a dar-lhe dinheiro para comprar a TVI por causa do Jornal de Sexta, o Governo não está disposto a isso, não concorda com isso"". O que fizeram os interlocutores? Granadeiro disse que "isso também correspondia ao pensamento dele. Eu não dei nenhuma ordem", conta Lino. Questionado sobre se conhecia o pré-acordo com a Prisa que Rui Pedro Soares levou quando foi a Madrid, Lino disse que "informado pelo CA da PT, desconheço. Ouvi em declarações públicas". O ex-ministro escudou-se sempre na justificação de que o assunto "não foi discutido na CE, nem na CA; estava nos primórdios" para não estar a par do caso.

Sobre a indicação de Rui Pedro Soares na lista para a administração, Mário Lino garantiu que essa era uma tarefa de Granadeiro e que apenas sugeriu três pessoas das 21 que compõem o CA: Zeinal Bava, Rodrigo Costa e António Ramalho (ex-Refer). "Não tinha preocupação de meter lá ninguém, nem familiar, nem conhecido, nem colega de partido", garantiu. "Houve sempre troca de impressões sobre os nomes. A golden share permite que se oponha a um terço. Eu nunca me opus a ninguém", garantiu Lino, especificando que "o Estado não tem representante na PT, a CGD é que tem representantes seus na PT".

Durante as duas horas e meia de audição, Mário Lino repetiu-se incansavelmente, até que esgotou o tempo a alguns deputados, como João Oliveira, do PCP. O rigor no tempo usado nas perguntas e respostas gerou discussão entre os deputados e o presidente Mota Amaral que, inflexível, até respondeu a Pedro Duarte, do PSD, que se quisesse podia voltar a convocar Mário Lino para esclarecer uma dúvida, motivando queixas da oposição.

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