Presidente deposto do Quirguistão admite demitir-se em troca de segurança

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Bakiev reuniu hoje três mil apoiantes em Jalalabad Denis Sinyakov/Reuters

O Presidente derrubado do Quirguistão, Kurmanbek Bakiev, deu sinal de que admite demitir-se na condição de o governo interino lhe garantir segurança e à família.

A capitulação de Bakiev foi noticiada pela agência noticiosa russa RIA Novosti, horas após os líderes do movimento golpista de há uma semana terem dado um ultimato ao chefe de Estado para que se entregasse até ao final do dia de hoje.

Caso esta exigência não seja cumprida, o governo interino lançará uma operação especial contra o bastião e refúgio do Presidente na região de Jalalabad, no Sul do país – tendo já avisado que Bakiev não goza mais da imunidade inerente ao cargo de Estado.

“Todos podem ver que o Presidente não quer afastar-se voluntariamente e, em vez disso, está a apelar a que sejam tomadas acções contra o povo”, apontou o ministro interino da Segurança, Azimbek Beknazarov, avançando que foi aberta uma investigação criminal contra Bakiev.

Desde a sua fuga da capital, Bichkek, quando centenas de milhares de pessoas tomaram de assalto as ruas das principais cidades do país, a 7 de Abril, exigindo o seu afastamento, Bakiev tem mantido uma postura irredutível: recusa demitir-se, rejeita abandonar o país – onde chegou ao poder em 2005 pela mão da “revolução das túlipas” – e acusa a oposição de ter levado a cabo um golpe ilícito.

E tem repetido incessantemente que qualquer tentativa de o deter irá resultar num “derramamento de sangue”. “O meu poder está no povo, não em mim”, reiterou hoje mesmo em desafio, num comício realizado em Jalalabad, onde terá reunido uns três mil apoiantes segundo reportam as agências noticiosas estrangeiras.

O aparato de segurança em torno de Bakiev não era demasiado, sublinha a britânica Reuters: o Presidente esteve no comício rodeado por apenas meia dúzia de guarda-costas munidos de espingardas AK-47.

Pelo menos 82 pessoas morreram e muitas centenas ficaram feridas nos tumultos de há uma semana na capital, onde os manifestantes entraram em confronto directo com a polícia e o exército. A multidão ficou fora de controlo após os primeiros disparos das forças leais ao Presidente, abrindo a porta a um cenário de batalha campal nas ruas, de lutas corpo a corpo e edifícios de Estado a serem invadidos, saqueados e incendiados.

Menos de 24 horas após os mais graves tumultos, a polícia e o exército declaravam, porém, lealdade ao governo que tomou o controlo do país, liderado pela antiga ministra dos Negócios Estrangeiros e em tempos aliada de Bakiev, Roza Otunbaeva. O governo interino foi, de resto, prontamente reconhecido como a autoridade de facto pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que prometeu ajudar este empobrecido país da Ásia Central e antiga república soviética.

A situação no Quirguistão é seguida atentamente também nos Estados Unidos, que arrendam em território quirguize uma base aérea, Manas, absolutamente crucial para a distribuição de abastecimentos para as tropas em combate no Afeganistão.

O secretário de Estado adjunto norte-americano, Robert Blake, irá esta semana ao Quirguistão para garantir que os líderes interinos mantêm a promessa de honrar o contrato de Manas – a já derradeira posição dos Estados Unidos na Ásia Central, depois de Washington ter perdido, em 2005, a base militar no Uzbequistão.

Notícia actualizada às 12h35
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