Uma solução
Não esperava tanto de Pedro Passos Coelho. É preciso força e confiança para fazer o que ele fez. Para começar, conseguiu negociar com Rangel uma lista única para o Conselho Nacional. Rangel fica em primeiro lugar e com 35 por cento dos lugares (19 em 55), os mesmos 35 por cento que teve na última eleição directa. Depois, não afastou Aguiar-Branco, que substitui Paula Teixeira da Cruz na comissão encarregada de rever o programa do partido. E falta ainda o governo-sombra, com que pode conciliar mais meia dúzia de "inconciliáveis". Claro que, ao princípio, esta mistura talvez crie algum constrangimento. Mas, tarde ou cedo, o PS de um lado e o longo exílio do poder do outro acabarão por produzir a uniformidade e a unidade de que um partido de governo precisa.
Claro que um partido de governo que não governa não vive em paz por muito tempo e que o PSD de Passos Coelho deve aparecer, e depressa, como a alternativa lógica ao PS de Sócrates. Neste capítulo, já foi tomada uma decisão de senso: acabar com a política do "escândalo" e com a interminável gritaria sobre o carácter do primeiro-ministro. Toda a gente está cansada dessa conversa sórdida, que até hoje não levou a parte alguma e que, pior ainda, segundo as sondagens, não prejudica decisivamente o PS. Sem emprego e sem dinheiro, os portugueses não estão muito interessados na pessoa (aliás, desagradável) do engenheiro. Querem uma saída, ou seja, uma política realista e firme, consistente e prática, que lhes dê alguma segurança e uma certa garantia de sossego.
Infelizmente, o partido em que Passos Coelho agora pegou não promete ganhar a maioria absoluta e, se ganhasse a maioria relativa, inaugurava com certeza uma nova era de instabilidade e de impotência. Só que há uma solução para este problema aparentemente intratável: a aliança do PSD ao CDS, com listas conjuntas. Foi a solução de Sá Carneiro e ninguém se queixou. Entre o PSD e o CDS não existem diferenças de ideologia ou de programa, que no essencial os separem. A Aliança Democrática viveu sempre sem qualquer querela partidária. Como, de resto, a coligação Barroso-Portas. Portugal suportou o PS durante quase 15 anos. Chegou a altura de a direita o substituir com uma proposta séria e sólida (e daí as listas conjuntas). Esperemos que Passos Coelho perceba que, a seguir à unidade do partido, há também a unidade que lhe permitirá governar.