Torne-se perito

Antigo dirigente da CGTP acusa Partido Comunista de se imiscuir na vida da central

Florival Lança diz que o partido bloqueou o debate sobre a adesão à Confederação Sindical Internacional

Afastado da direcção da CGTP há dois anos, Florival Lança acusa o PCP de se imiscuir na vida interna da CGTP, "impedindo e bloqueando" o debate em torno da adesão da maior central portuguesa à Confederação Sindical Internacional (CSI). No livro Inter Nacional lançado ontem no Porto, o antigo dirigente retoma um dos temas que mais polémica têm suscitado dentro da central.

A filiação na CSI, que representa mais de 150 milhões de trabalhadores de todo o mundo, foi um dos assuntos fracturantes do XI congresso da CGTP, em Fevereiro de 2008, e que motivou a saída de Florival Lança da comissão executiva, onde geria o gabinete de relações internacionais. Ao PÚBLICO, o antigo dirigente lamenta que o debate sobre a adesão à CSI não se tenha concretizado porque o PCP não deixou, sem que nunca tenha assumido esse bloqueio abertamente.

Na altura, nos bastidores, corria que o PCP estava a delinear a estratégia internacional da estrutura e os sectores socialistas, católicos e comunistas não alinhados com a direcção do partido chegaram a publicar um manifesto defendendo uma maior independência da central e a adesão à CSI. Agora, Florival Lança faz um relato de todo o processo de aproximação à CSI, a forma com o partido - que abandonou também em 2008 - reagiu e que culminou na recusa da moção no congresso.

Na altura de fazer as reuniões com as uniões e federações da CGTP para debater a adesão, decidida no congresso de 2006, Florival Lança percebeu que havia "uma tentativa de silenciar" a discussão. "Havia sempre um responsável do PCP que ia de véspera aos locais para onde eu tinha agendado debates. Quando eu chegava, tinha o campo armadilhado", revela. Mais tarde, descobriu a origem desse bloqueio: numa resolução do PCP de Novembro de 2006, aprovada num encontro de 62 partidos comunistas e operários em Lisboa, ficava claro que "a eventual filiação internacional da CGTP noutra central mundial que não a Federação Sindical Mundial [de cariz comunista] surgiria bloqueada à partida".

"Eu não sabia que havia essa orientação tão clara, por isso admito que os restantes dirigentes da CGTP também não a conhecessem", frisa. E Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP? "Ele sempre defendeu um debate profundo sobre o assunto e no congresso não votou a resolução de não adesão à CSI", afirma.

Florival Lança não lamenta ter saído: "Não podia continuar num posto chave a defender o que a maioria não queria", relata. Mas condena o argumento da idade, decidido em 2008, que impedia a manutenção de dirigentes com mais de 60 anos. "Foi uma decisão política para afastar alguém que tinha cometido um delito de opinião." O sindicalista acabou por também abandonar o partido.

Decidiu escrever este livro por considerar que o processo de filiação internacional da CGTP tem ainda um longo caminho para percorrer. "No último congresso deu-se a impressão de que o processo estaria encerrado. Mas não está. É um debate que continua em aberto, mas que infelizmente dentro da central não está vivo".

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