PS e CDU temem consequências da "cidade subterrânea"

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Oposição receia que uma tuneladora desestabilize o velho casario fernando veludo/arquivo

Parque de estacionamento no subsolo do centro histórico, no eixo Mouzinho-Flores, deixou a oposição preocupada

A direcção da Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) esteve, ontem, na reunião da Câmara do Porto para fazer um balanço do trabalho desenvolvido e apresentar alguns projectos estruturantes no centro histórico. O parque subterrâneo previsto para o eixo Mouzinho-Flores deixou o PS e a CDU preocupados. As duas forças políticas defendem que o projecto deverá ser votado pelo executivo.

Durante a apresentação nos Paços do Concelho, Ana Paula Delgado mostrou à vereação algumas imagens sobre o projecto, ainda em fase de estudo, que deverá dotar uma ampla área do centro histórico de um parque de estacionamento subterrâneo. A concretização deste projecto implicará a abertura de um túnel, que poderá chegar aos quinze metros de diâmetro, por onde circularão as viaturas de moradores e visitantes, em busca de um lugar de estacionamento no subsolo. As imagens e explicações da responsável da SRU, sobre o processo daquela que já foi apelidada "cidade subterrânea", inquietaram a oposição. "É o projecto mais intrusivo da SRU e a própria Porto Vivo tem consciência que pode levantar algumas questões relacionadas com a segurança e a arqueologia da cidade", disse aos jornalistas, no final da reunião, o vereador do PS Correia Fernandes.

O arquitecto teme que vestígios arqueológicos no subsolo da zona afectada do centro histórico, no eixo Mouzinho-Flores, passando junto ao Largo dos Lóios, Rua dos Caldeireiros, S. Bento da Vitória e Taipas, sejam "desbaratados" pela "passagem de uma máquina brutal como uma tuneladora, que destrói tudo à sua frente". E o facto de o túnel gigantesco ser construído, em praticamente toda a sua extensão, por baixo das casas leva Correia Fernandes a avisar: "Pode fazer a cidade correr sérios riscos."

Os socialistas também lamentam que a construção do parque de estacionamento subterrâneo que comportará, na sua totalidade, quase 2300 lugares, seja uma aparente inversão das prioridades em termo de mobilidade, já que "favorece o transporte privado e não o transporte público". Por tudo isto, Correia Fernandes sentencia: "Este projecto não justifica o investimento e o risco. É preciso encontrar alternativas, porque elas existem."

Pela CDU, Rui Sá também ficou pouco sossegado com a exposição da SRU: "Fiquei preocupado. Foi-nos mostrado um acetato com imagens de um túnel, com estacionamento e circulação, que vimos de relance. Penso que é um assunto que tem de ser muito bem discutido em reunião de câmara e foi esse apelo que fiz ao presidente."

Contactada pelo PÚBLICO, Ana Paula Delgado não comentou os receios e críticas da oposição camarária, lembrando apenas que "a cidade subterrânea" está incluída no plano de regeneração urbana, aprovado no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional, e que, como tal, "tem que ser executada", no prazo de três anos, ou seja, até Julho de 2012. Além disso, frisa, todo o processo está a ser alvo de estudos aprofundados, e operações similares já foram realizadas noutras cidades do mundo. "O próprio metro circula por baixo de edifícios", lembrou.

O projecto da "cidade subterrânea" encontra-se, neste momento, ainda em fase de estudos para a primeira fase da construção, que inclui a abertura de um túnel de circulação e espaço de estacionamento para cerca de 400 viaturas entre o Largo de S. Domingos e parte da Rua das Flores. Esta primeira fase está orçada em 16 milhões de euros.

A segunda fase, que fará crescer o túnel em 944 lugares, está orçada em mais de 20,7 milhões de euros, e estende-se pela Rua das Flores até ao Largo dos Lóios, onde dá a volta e começa a descer a Rua dos Caldeireiros. A última fase, que desce até às Taipas, permitirá a disponibilização de mais 945 lugares e custará cerca de 20,3 milhões. O parque está "vocacionado para os moradores da área, mas não só", lembra Ana Paula Delgado.

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