Fazendeiro que encontrou inspiração em Napoleão e Hitler

Uma vida a sonhar com uma Terra Branca

Eugène Terre"Blanche sempre se apresentou como o supra-sumo dos boers (fazendeiros, em afrikaans, língua derivada do holandês), os sul-africanos de ascendência holandesa, francesa e alemã, politicamente mais à direita do que os seus compatriotas brancos de ascendência britânica.

Descendente de huguenotes (protestantes franceses) que em 1688 chegaram à África do Sul, o seu próprio nome de família, traduzível por Terra Branca, corporizava toda uma mentalidade de supremacia sobre as populações negras. Ao fundar em 1973 o Afrikaner Weerstandsbeweging (AWB, Movimento de Resistência Afrikaner), Terre"Blanche adoptou como insígnia do mesmo algo que muito se parecia à bandeira nazi: uma derivação da cruz suástica, a negro, dentro de um círculo branco, que por seu turno se inseria num fundo vermelho. E disse que se inspirava em Júlio César, Alexandre Magno, Napoleão e Hitler.

No seu entender, o primeiro-ministro nacionalista John Vorster estava a deslizar perigosamente para um caminho que levaria à democracia, ao comunismo, à governação pela maioria negra e à destruição da nação afrikaner, verdadeira tribo branca que se desenvolvera na África Austral.

O quartel-general do caudilho e do seu grupo funcionou sempre em Ventersdorp, uma decadente vila rural por entre campos de milho, 150 quilómetros a ocidente de Joanesburgo. Foi aí que ele nasceu e morreu, não muito longe da fronteira com o Botswana e do deserto do Calaari.

A partir desse território ancestral, o AWB estabeleceu as suas células, na sua maioria entre os fazendeiros de língua afrikaans existentes no Norte do país, se bem que ocasionalmente Terre"Blanche se aventurasse entre as comunidades urbanas dessa mesma "tribo". Quando o fazia, aparecia nos comícios a cavalo, ladeado por elementos da sua Ystergaard (Guarda de Ferro).

Tendo sempre funcionado dentro do princípio nazi de que só poderia haver um chefe, o AWB poderá ter dificuldade em se adaptar ao desaparecimento daquele que era a sua personificação.

O movimento recorreu a tácticas terroristas para tentar impedir as primeiras eleições multirraciais, em 1994, tendo morto mais de 20 pessoas, numa série de atentados bombistas. Em 2001, Terre"Blanche foi condenado por ter tentado matar um guarda e assaltado o encarregado de uma estação de serviço. Passou três anos na cadeia.

Ultimamente, ao verificar que sozinho o AWB não conseguiria ir mais longe, tinha o sonho de congregar os diferentes grupos sul-africanos de extrema-direita: "O branco deste país está a aperceber-se de que a sua salvação reside em governos autónomos em territórios que foram pagos pelos seus antepassados." J.H.

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