Assassínio de Terre"Blanche "vai inflamar" tensões raciais

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Terre"Blanche foi morto por dois trabalhadores da sua fazenda Siphiwe Sibeko/REUTERS

Partidários do chefe do Movimento de Resistência Afrikaner afluíram à sua fazenda, enquanto o Presidente Zuma pedia unidade

A oposição ao Governo do Congresso Nacional Africano (ANC) avisou que o assassínio de Eugène Terre"Blanche poderá criar uma situação potencialmente explosiva, trazendo de novo a lume todas as tensões dos tempos do apartheid.

O líder do Movimento de Resistência Afrikaner (AWB) foi assassinado por dois trabalhadores negros na sexta-feira. Ontem, a África do Sul entrou em ebulição, temendo que a notícia signifique um regresso ao passado.

Dezenas de partidários do dirigente extremista dirigiram-se à propriedade onde ele foi encontrado com ferimentos no rosto e na cabeça, tendo expressado a sua cólera, enquanto o Presidente Jacob Zuma pedia calma.

A família de Terre"Blanche e o AWB convidaram a imprensa para uma das suas casas, a fim de fazerem uma declaração. Depois, quando os jornalistas procuraram entrevistar pessoas que apareciam para dar os pêsames, alguns membros do movimento, de pistola à cinta, ameaçaram-nos e ordenaram-lhes que saíssem dali.

Os assassinos, um de 21 anos e outro de 15, contaram à polícia que tinham morto o fazendeiro por ele não lhes ter pago o trabalho que fizeram na sua propriedade. "Eles matam os nossos fazendeiros", disse um seguidor de Terre"Blanche à AFP em Ventersdorp, na província do Noroeste.

O potencial de violência permanece elevado nas explorações agrícolas sul-africanas, na maior parte em poder de brancos, 16 anos depois de o país ter começado a ser governado por representantes da sua maioria negra.

Esta morte vai "polarizar e inflamar paixões" e tensões raciais, antecipou Helen Zille, primeira-ministra da província do Cabo Ocidental e chefe da Aliança Democrática, principal força da oposição ao ANC. O Partido Inkatha da Liberdade e o Freedom Front Plus também admitiram que se possam verificar mais actos de violência.

"O ANC, especialmente a sua Liga Juvenil, criou um clima de ódio ao Afrikaner", queixou-se o escritor Dan Roodt, porta-voz da Freedom Front, enquanto o grupo de direitos cívicos AfriForum, que defende os direitos dos afrikaners, pedia calma, para que o clima não se deteriore a dois meses da realização do Mundial de Futebol.

Ouvido pela Lusa, André Thomashausen, professor de Direito na Universidade da África do Sul, disse que "este incidente pode mobilizar as franjas de brancos empobrecidos pela política de acção afirmativa do Governo a recorrer a acções que chamem a atenção durante o Mundial" de Futebol, de 11 de Junho a 11 de Julho.

"Ninguém tem o direito de exercer justiça pelas suas próprias mãos", disse o Presidente Jacob Zuma, também líder do ANC, partido maioritário desde as primeiras eleições multipartidárias e multirraciais realizadas na África do Sul, em 1994, após o fim do regime segregacionista. "É neste contexto que a morte de Terre"Blanche deve ser condenada, independentemente da forma como os seus assassinos pensem que teriam alguma justificação. Não tinham o direito de lhe tirar a vida", diz um comunicado.

Zuma foi depois à televisão apelar à "unidade" e pedir "responsabilidade" a todos os líderes políticos. "Todos nós devemos reflectir antes de fazermos declarações que contrariem os nossos esforços de construção da nação."

"Matem Malema!"

Este crime verificou-se numa altura de crescente polarização racial no país, bem patente na polémica da ilegalização pelo Supremo Tribunal de uma canção que costumava ser cantada pelo líder Liga Juvenil do ANC, Julius Malema, com o refrão "Morte ao Boer". Os militantes negros do partido de Zuma entendem que a canção faz parte do seu património histórico.

"Matem Malema!", gritou um dos partidários de Terre"Blanche nas proximidades da casa onde ele foi morto, aparentemente a golpes de catana.

O secretário-geral do Movimento de Resistência Afrikaner, Andre Visagie, assegurou que o assassínio do líder será vingado. Mas aconselhou os militantes a não actuarem até à reunião de 1 de Maio, que deverá determinar o futuro do grupo: "A acção específica será decidida na nossa conferência."

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