Quatro políticos terão recebido 6,4 milhões no negócio dos submarinos

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Há também um diplomata português que pode estar envolvido Carlos Lopes/arquivo

Há quatro pessoas ligadas ao PSD e ao CDS-PP que terão recebido 6,4 milhões de euros no âmbito do negócio de compra de submarinos a uma empresa alemã, noticia hoje o “Correio da Manhã”.

Os políticos da coligação estavam responsáveis pela adjudicação, em 2004, da compra de dois submarinos aos alemães do German Submarin Consortium do qual faz parte a empresa Ferrostaal. Segundo o mesmo jornal, que não identifica as pessoas em causa, cada um recebeu "luvas" no valor de 1,6 milhões de euros na sequência da concretização do negócio.

Existe, ainda, um quinto elemento, o cônsul honorário de Portugal em Munique, Jürgen Adolff, que, segundo a investigação do Ministério Público de Berlim, terá recebido também 1,6 milhões de euros por alegadamente ter organizado, em 2002, uma reunião entre um administrador da empresa de submarinos e o antigo primeiro-ministro português Durão Barroso. Ontem, o Governo português anunciou que suspendeu o diplomata das suas funções até a investigação apurar a verdade.

A revista alemã Der Spiegel noticiou na terça-feira que um cônsul honorário de Portugal, que não identificava, terá recebido um suborno de 1,6 milhões de euros da Ferrostaal para ajudar a concretizar a compra de dois submarinos pelo Estado português em 2004. De acordo com a mesma fonte, o cônsul honorário terá também organizado, no Verão de 2002, uma “reunião entre a administração da Ferrostaal e o antigo primeiro-ministro português José Manuel Durão Barroso”, actual presidente da Comissão Europeia.

Buscas

As autoridades judiciais de Munique, que efectuaram várias buscas na semana passada na Ferrostaal, encontraram “mais de uma dúzia de contratos de consultoria suspeitos”, que visavam “dissimular os canais de pagamento” para que “subornos pudessem ser enviados a responsáveis do Governo [português], dos ministérios e da Marinha”, refere a revista. Contudo, a Ferrostaal garantiu ontem não ser o alvo da suspeita na “investigação criminal” em curso na Alemanha a “determinados indivíduos” envolvidos em “projectos específicos”. “O alvo da suspeita não é a empresa. A empresa foi informada de que se trata de acusações de suborno em alguns projectos específicos”, salienta a Ferrostaal em comunicado.

A comunidade portuguesa em Munique já tinha pedido em Dezembro a substituição do cônsul honorário Jürgen Adolff, ontem suspenso de funções pelo Governo por suspeitas de corrupção no negócio dos submarinos, que acusava de “aproveitamento pessoal” do cargo. Mais de 500 portugueses residentes em Munique subscreveram um abaixo-assinado exigindo a substituição do cônsul honorário de Portugal na capital da Baviera, que ocupava o cargo há 15 anos.

O processo português relativo ao negócio dos submarinos deverá ter novos desenvolvimentos após a Páscoa. A fase de instrução avança a seguir ao feriado num processo em que sete portugueses e dois alemães foram constituídos arguidos por suspeita de burla qualificada e falsificação de documentos em relação a contrapartidas não realizadas no valor de 36 milhões de euros. O administrador detido na Alemanha não faz parte do lote de dois incluídos no caso português. Há um ano, duas magistradas portuguesas deslocaram-se à Alemanha. Os dados obtidos não foram utilizados, uma vez que a Ferrostaal interpôs um recurso judicial.

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