Análise Bruno Prata: Jesus soube aproveitar a vantagem numérica

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Jorge Jesus, treinador do Benfica Foto: Hugo Correia/Reuters

1. O Liverpool segue no sexto lugar da Premier League, tem em risco o apuramento para a Champions e há muito se sabia que a Liga Europa é a única via em aberto para o espanhol Rafael Benítez minimizar os estragos e atenuar a pressão dos donos americanos do clube, que ameaçam vender as vedetas para atenuar os números a vermelho. Isso transpareceu nos primeiros 15 minutos, em que se viu um Liverpool dinâmico e intenso, aproveitando tanto a verticalidade dos holandeses Kuyt e Babel nas faixas como o corredor central, onde as diagonais de Torres e Gerrard faziam tremer a defesa benfiquista.

2. O Benfica vem sentido dificuldades esta época principalmente face a adversários que se distribuem com um duplo pivot defensivo. E a verdade é que, durante aqueles 15 minutos iniciais, Lucas e Mascherano bastaram para contrariar tanto as habituais transições rápidas do Benfica, como a “sociedade” formada por Carlos Martins e Aimar, ontem novamente no lugar que costuma ser do lesionado Saviola. A verdade é que as coisas não funcionam da mesma forma sem “El Conejo”, talvez o jogador mais difícil de substituir neste Benfica. Tudo junto contribuiu para que o Liverpool ganhasse em termos de posse e gestão de bola nessa fase.

3. A verdade é que o golo do Liverpool acabou por resultar de um lance de bola parada, em que a defesa zonal benfiquista foi ingénua e não atacou a bola, sendo surpreendida pelo livre “à Camacho” e pelo toque de calcanhar de Agger, no primeiro golo marcado pelo central dinamarquês esta época.

4. A expulsão de Babel, com uma hora para jogar, foi importante, mas antes disso já o Benfica tinha rectificado alguns maus posicionamentos e assumido o comando do jogo, quase sempre à custa de Di María, porque Aimar e principalmente Ramires seguiam muito apagados. Pior só a eficácia finalizadora de Cardozo.

5. Em inferioridade numérica, o Liverpool passou a jogar em 4x3x2, encostando Gerrard à esquerda. Isso garantiu maior liberdade a Ramires, que assumiu todo o corredor após a saída de Maxi Pereira (boa leitura táctica de Jorge Jesus, que não teve dúvidas em investir em Nuno Gomes para dar mais tracção à frente) e até à entrada de Ruben Amorim.

6. O Benfica virou o jogo com dois penáltis, mas teve oportunidades suficientes e volume de jogo para o fazer em lances corridos, confirmando-se que o problema deste Liverpool é mesmo a fiabilidade defensiva. Jogar uma hora em vantagem com mais um homem só é uma vantagem quando se sabe fazê-lo. E o Benfica soube.

7. Foi a primeira vez, em nove confrontos, que o Benfica marcou dois golos à equipa inglesa. Em Anfield, na próxima semana, Jorge Jesus quererá defender melhor do que nunca, mas sem perder a intencionalidade ofensiva. Porque esse equilíbrio tem sido a grande razão do sucesso deste Benfica.

8. A expulsão de Babel pareceu um exagero do árbitro sueco, mas o Benfica tem mais razões de queixa. Os dois penáltis foram bem assinalados (o segundo pelo quinto árbitro), mas ficaram dois outros por marcar (mão de Lucas na bola e pontapé de Carragher em Cardozo). bprata@publico.pt

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