Banco central alerta para risco de recessão no curto prazo

Foto

Apesar da existência deste quadro de risco potencial, o banco central considera que "é fulcral a prossecução de uma estratégia de consolidação orçamental credível". Se tal não acontecer e os mercados mantiverem dúvidas sobre o esforço de correcção do défice português, as condições de financiamento do sector público poderão deteriorar-se, afirma a instituição, contagiando depois os agentes privados - empresas e famílias.

No boletim ontem revelado, o banco central refere que a evolução da situação económica portuguesa irá beneficiar de alguma recuperação da procura mundial. Mas este efeito será condicionado pela ligeira subida das taxas de juro e por um previsível abrandamento do consumo privado, a reflectir os impactos que as medidas do Programa de Estabilidade e Crescimento terá no nível de rendimento disponível das famílias.

Para o ano em curso, o Banco de Portugal prevê que o Produto Interno Bruto cresça 0,4 por cento (no Boletim de Inverno previa um incremento de 0,7 por cento). No ano que vem, a criação de riqueza em Portugal conhecerá um aumento de 0,8 por cento, também muito distante dos 1,4 pontos percentuais avançados na anterior previsão. Estes números ficam também aquém das previsões que o Governo inscreveu no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que irá apresentar a Bruxelas - 0,7 por cento no ano em curso e 0,9 por cento em 2011.

Incertezas nos mercados

A entidade liderada por Vítor Constâncio alerta que este quadro macro-económico está envolto em algumas incertezas: fragilidades múltiplas em muitos segmentos do mercado financeiro internacional, a eventual reversão das medidas que muitos países adoptaram para estimular o crescimento económico, a timidez da retoma entre os principais parceiros comerciais de Portugal e os impactos das medidas inscritas no PEC elaborado pelo Governo.

Não obstante este enquadramento internacional pouco seguro, a análise mais optimista do Banco de Portugal diz precisamente respeito às exportações, que deverão crescer acima de 3,5 por cento este ano e no próximo. Estes valores representam uma significativa revisão em alta dos indicadores avançados no Boletim de Inverno. Já a procura interna deverá cair 0,5 por cento este ano e aumentar 0,2 por cento em 2011.

Preocupante é a previsão para a evolução do investimento em Portugal (formação bruta de capital fixo). O banco central avança a perspectiva de um recuo de 6,3 por cento, este ano, e um crescimento residual, de 0,3 por cento, no próximo ano. O investimento público, assinala o BdP, irá repercutir os efeitos das opções de política com vista à redução do défice orçamental e o investimento residencial vai reflectir os condicionamentos no rendimento disponível das famílias. Quanto ao investimento empresarial, continuará a evidenciar os impactos de um enquadramento negativo no final de 2009 e início de 2010, embora, face ao crescimento da procura externa, se espere "um aumento limitado desta componente no decurso de 2011", salienta a entidade liderada por Vítor Constâncio.

Para os trabalhadores que tiverem salários congelados este ano e no próximo (como é o caso dos funcionários públicos) as notícias não são boas. O Banco de Portugal prevê que a inflação aumente 0,8 por cento este ano e 1,5 por cento em 2011, o que resulta numa perda de poder de compra conjunta de 2,3 por cento. No ano passado, o índice harmonizado de preços no consumidor registou um recuo de 0,9 por cento, segundo o Instituto Nacional de Estatística.

Sugerir correcção
Comentar