Ele tem sorte?

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RICARDO CASTELO/NFACTOS

Como se esperava, Pedro Passos Coelho ganhou a presidência do PSD por 61 por cento dos votos (43.959) e é neste momento, segundo ele próprio, candidato a primeiro-ministro. O discurso dito da "vitória" foi naturalmente dedicado à unidade da louca congregação, que o elegeu. Num gesto teatral, Passos Coelho convidou logo Rangel e Aguiar-Branco para a sua futura direcção e pediu a Manuela Ferreira Leite que ficasse, como sempre, "na primeira linha". Já, de resto, tinha prometido um "Governo sombra" (em que presumivelmente meterá toda a gente) e uma espécie de Conselho de Estado, em que entrariam os velhos líderes do partido: pelas minhas contas, nove, tirando Cavaco. Isto, como é óbvio, não passa de uma encenação para edificar o militante e convencer o patego. O poder de facto continuará com ele e as facções, como anunciou Rangel, não se tencionam dissolver.

Quanto ao programa, que Paula Teixeira da Cruz congeminou, é um programa liberal. Passos Coelho quer reduzir o papel do Estado (em abstracto, uma boa ideia) e aumentar a participação dos "privados" na saúde, na educação e na segurança social. Não acredito que vá muito longe. Nem sequer acredito que ele acredite no que ostensivamente propõe. Qualquer ameaça ao Estado providência, de que a maioria dos portugueses depende, levantaria contra ele a maioria do eleitorado, incluindo o eleitorado do PSD. O que não significa que o Estado providência se possa sustentar, como agora existe, e que não deva ser gradualmente reformado. Mas significa que a opinião pública não aceita ainda a mais leve tentativa para o diminuir ou o limitar; e que só por usura e desespero perceberá eventualmente a evidência. O liberalismo, em Portugal, é hoje um suicídio. E Passos Coelho não é um suicida.

No imediato, as coisas também são difíceis. Por força das circunstâncias, Passos Coelho está sem espaço de manobra. Por um lado, com o PSD desorganizado e abúlico, não lhe convém uma eleição prematura. Por outro lado, esperar até 2011, aumenta com certeza a frustração do militante médio e acirra as facções. Por isso, ele balança entre "não levar o Governo ao colo" (por exemplo, na execução do PEC) e correr o risco de um compromisso temporário (internamente mau) para fazer "sem pressa" o que precisa de fazer. Cavaco, que não gosta dele e de quem ele não gosta, não o ajudará muito. Mas na política a sorte conta. Quando lhe pediam para nomear um general, Napoleão notoriamente perguntava: "... E ele tem sorte?". E Passos Coelho tem sorte?

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