Despedidas

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Anteontem fui despedido da revista GQ, pelo director e meu amigo, Domingos Amaral. Custou. Em dinheiro e em amizade. Fiquei mais pobre mas mais amigo do Domingos. Que é coisa difícil; já que sempre simpatizei com ele e ele e eu tratámo-nos sempre com a amizade e a delicadeza que são exageradas porque não custam.

O Domingos telefonou-me. Estava aflito. Eu, sempre que fui director, evitei sempre ser o mensageiro de más notícias. Sou um cobarde. Ser cobarde é o contrário de ser bondoso. A GQ é uma grande revista e a Cofina é uma grande empresa, que honra o jornalismo e aposta corajosamente na imprensa. Vivemos num vale de lágrimas para a imprensa, que não há-de passar. Fui despedido três vezes. Duas dessas três - do Expresso, graças a José Cardoso, e da revista GQ, graças a Domingos Amaral - percebi, pela humanidade e amizade do Zé e do Domingos, que a culpa nem era minha nem deles; nem dos proprietários nem das agências de publicidade.

Já do Diário de Notícias fui despedido por escrito. Apesar de ter mudado a direcção, custou um bocadinho. Faltou uma palavrinha. Vi George Clooney no filme Nas Nuvens sem conseguir esquecer-me disso. Foi o castigo pela minha própria cobardia no despedimento de colaboradores. Nunca tive a coragem ou a humanidade que tiveram o Zé e o Domingos. Nem sequer a decência de escrever uma carta, como fez o Diário de Notícias.

Cheira-me que ainda não paguei o preço e que a minha taxa de retorno de karma ainda é muito baixa.

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