Torne-se perito

Aldeias submersas por barragens

Em Vilarinho das Furnas e na Aldeia da Luz ainda há feridas por sarar

Vilarinho das Furnas e Aldeia da Luz, no Minho e no Baixo Alentejo, são aldeias portuguesas sacrificadas às barragens. A saída das respectivas populações não foi, em nenhum dos casos, pacífica. Num e noutro caso ainda há feridas por sarar. Como seria (será?) no Pisão?

Há 39 anos, no Gerês, o povo da aldeia comunitária de Vilarinho das Furnas quase foi empurrado e ainda hoje, sempre que as águas baixam, há quem vá matar saudades das paredes que ainda estão de pé e dos caminhos por onde antes circulavam. Parte dos sobreviventes foi morar para a vizinha localidade de São João do Campo. Outros espalharam-se por outros concelhos mais distantes.

Foi a 21 de Maio de 1972 que as águas do Rio Homem passaram, naquele local, a ter o nome do povoado submerso, dando seguimento a mais um grandioso empreendimento do regime. O povo foi levado em carrinhas um ano antes da inauguração. Quem era pobre assim permaneceu.

Com uma história bem mais recente, o povo da Aldeia da Luz, desalojado pelo apresamento das águas do Guadiana, teve direito a um novo povoado. Mas, se se esquecerem os proventos materiais, resta o trauma da mudança. As ruas simétricas, as paredes direitas e os candeeiros bem alinhados em cada rua traçada com régua e esquadro, nunca terão no coração de cada habitante o espaço ocupado pelo antigo casario desalinhado, pelos quintalejos amanhados ao gosto de cada qual. A barragem de Alqueva atingiu este ano, e pela primeira vez, a cota máxima. Voltar a ver o antigo casario da Aldeia da Luz é, nos próximos tempos, apenas um sonho. No Pisão, dizem os poucos habitantes, a subida das águas da Ribeira de Seda e a submersão do casario não haviam de causar dores de alma irreparáveis. Na verdade, mais de 90 por cento dos que ali habitam querem a barragem, porque a mesma lhes há-de trazer trabalho, dinheiro e qualidade de vida. É este o desejo do povo, preparado há 50 anos para transferir os tarecos para 500 metros mais acima, para o lugar do Monte da Velha.

A história destas três aldeias tem um denominador comum: a vontade dos governos. Em Vilarinho das Furnas e na Aldeia da Luz os governos quiseram e as obras fizeram-se, mesmo sem dar muito cavaco aos que lá moravam. No Pisão o Governo, embora já tenha dito que quer, também agora diz que não quer. E a obra não avança, mesmo sendo outra a ideia de quem lá vive. J.B.A.

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