Dar tiros no Dia da Árvore
Desde o seu início, ao tempo de Duarte Pacheco, que o parque florestal de Monsanto tem sido constantemente alvo de tentativas de ocupação por estruturas e ou actividades contrárias à sua essência, muitas delas infelizmente concretizadas. Isto é: sempre que o Estado ou a Câmara Municipal de Lisboa (CML) pretendem instalar ou construir qualquer coisa para a qual não há terreno na cidade, usam Monsanto como "banco de terrenos". São exemplos disso a instalação do pólo universitário, a cedência de terrenos para cooperativas e outros equipamentos, o alargamento da Auto-estrada 5 ou a radial de Benfica, entre muitos outros casos.
Há poucos anos, houve a intenção de transformar o Aquaparque, um terreno também "roubado" ao parque, numa espécie de feira popular, empreendimento felizmente nunca concretizado graças à forte contestação popular, confirmada recentemente pelos tribunais, que deram razão à associação de moradores. Uma vitória da cidadania, mas uma vitória de Pirro. Também recentemente quiseram colocar a Feira Popular no Alvito e Calhau, transferir o hipódromo do Campo Grande para Monsanto, e mais uma série de projectos nunca concretizados devido à resposta imediata da população, a começar pela Plataforma por Monsanto, entretanto criada, mas também graças à capacidade de diálogo demonstrada pelo então presidente da CML, que não avançou com nenhum destes projectos enveredando antes por outros bem mais positivos e que inequivocamente valorizaram o parque, até então praticamente esquecido pela CML.Contudo, a maior vitória de Monsanto nos últimos tempos foi há três anos, uma vitória, para muitos, mesmo impensável: a CML, por iniciativa do então vereador dos Espaços Verdes, e a contragosto de alguns nomes sonantes, não renovou o contrato com o Clube Português de Tiro a Chumbo, contrato cujos termos expiravam nessa altura. A CML foi então sensível a dois argumentos de peso: primeiro, a manutenção de tiro ao chumbo num parque florestal, embora sendo uma modalidade olímpica e de reconhecidos préstimos e popularidade, é todavia incompatível com um "pulmão verde"; segundo, o clube de tiro, estrutura ali instalada ao longo de décadas, viola todas as regras do parque e era a sua principal fonte de poluição ambiental e sonora.
Foi uma decisão sensata e corajosa da CML e, sobretudo, um sinal de mudança para uma cidade que se pretende seja do séc. XXI. E foi uma decisão importante em termos de defesa da qualidade de vida dos lisboetas e dos milhares de pessoas que frequentam Monsanto nas suas diversas vertentes, no que isso representou na qualidade do ar que ali se respir