Género quê?

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No PÚBLICO de anteontem vinha a notícia do "primeiro sem-género do mundo". Norrie May-Walby nasceu rapaz; fez uma operação para mudar de sexo quando tinha 28 anos mas decidiu, logo depois, que não queria ser nem uma coisa nem outra. Quis ser um "neutro" e as autoridades da Austrália, sabiamente, concordaram.

O vergonhoso caso da maneira como se quis reavaliar as proezas da atleta sul-africana Caster Semenya é um sinal recente da profundidade dos nossos preconceitos. Os sul-africanos responderam com justa indignação. Os peritos lembraram que, cientificamente, há centenas de dúvidas (das duradouras, que jamais se poderão resolver) para se determinar se alguém é de um sexo ou de outro.

Somos todos uma mistura. As nossas preferências sexuais são a coisa mais concreta que temos: são como gostos musicais. Gore Vidal tem sido o mais lúcido dos explicadores da pouca importância destes gostos.

As cores são uma descoberta recente, em termos científicos. O "género" (não gosto da tradução portuguesa de gender) é como reduzir os sexos e as sexualidades a branco e preto, com uma terceira e pouca útil hipótese de cinzenta. Corresponde ao indeciso; a quem não é uma coisa nem outra. Nomeadamente: ninguém.

E as cores? Do arco-íris e além? Pelo menos metade do mundo não sabe o que quer ou quem é. Parabéns à Austrália por abdicar do vício de classificar tudo dicotómica e maniqueistamente. Como continua a fazer o resto do mundo, estupidamente. Os neutros defendem-nos a todos.

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