Mel Gibson assume as rugas

O filme inscreve-se sem problemas nem pretensões numa linhagem de mistério clássico dobrado de thriller de conspiração um tudo-nada anos 1970

Há oito anos (desde 2002 e "Sinais", de M. Night Shyamalan) que Mel Gibson não tinha o papel principal numa longa-metragem, o que é uma eternidade na Hollywood contemporânea, mesmo descontando que o actor/realizador não esteve ausente dos media nesse período (primeiro com as duas longas que realizou no interim, "A Paixão de Cristo", 2004, e "Apocalypto", 2006, depois com as polémicas levantadas pela sua fé cristã e pelas suas diatribes alcoolizadas). Há, por isso, dois suspiros de alívio face a "Fora de Controlo". Primeiro, Gibson, hoje com 54 anos, assume as rugas, o que cai bem quer no tom do filme quer na sua personagem de detective da polícia de Boston que carrega as marcas do tempo. Segundo, o Gibson-actor não perdeu nada da segurança e da confiança que o tornou num dos mais interessantes astros masculinos da Hollywood dos anos 1990.


À sua imagem, "Fora de Controlo" é um policial sólido e competente, conduzido com eficácia por Martin Campbell, o neo-zelandês que "relançou" a série Bond primeiro com "Goldeneye" e Pierce Brosnan e depois com "Casino Royale" e Daniel Craig mas que, curiosamente, assina aqui uma "remake" compactada da série que dirigiu para a televisão inglesa há 25 anos, sobre um polícia cuja investigação sobre a morte da filha o leva a uma conspiração política.

A história deixa uma ou outra ponta solta por atar (talvez por condensar seis horas em duas), mas o filme inscreve-se sem problemas nem pretensões numa linhagem de mistério clássico dobrado de thriller de conspiração um tudo-nada anos 1970, e cumpre honrosamente dentro dessas coordenadas. E isso, parecendo que não, já é bastante positivo numa altura em que a maior parte da produção americana parece estar mais atenta ao marketing do que ao conteúdo.

Sugerir correcção
Comentar