Rússia avisa que desarmamento nuclear pode não passar no Parlamento
“Os deputados da Duma participam nos preparativos do acordo START-2 [tratado de desarmamento nuclear], mas não o iremos ratificar se o mesmo não incluir disposições sobre as questões de defesa antimíssil”, declarou o presidente da assembleia, Boris Grizlov, numa referência clara ao escudo norte-americano que os russos não querem ver expandir para a Europa Central, bem para perto das suas fronteiras.
Grizlov fez estas declarações de desafio – numa altura em que os negociadores das duas partes continuam a prometer para breve o sucessor do histórico Start-1 (Tratado de Redução de Armas Estratégicas) – acompanhado pelo secretário-geral do Rússia Unida, partido liderado desde há um par de anos pelo primeiro-ministro, Vladimir Putin, e que domina em força ultra maioritária o Parlamento do país.
Dentro de dois dias a chefe da diplomacia dos Estados Unidos inicia uma visita à Rússia, levando na agenda a prioridade de fazer avançar o mais possível as negociações – longas e difíceis – para firmar o novo pacto bilateral de desarmamento nuclear que deve suceder ao documento histórico assinado em 1991 pelo então Presidente norte-americano George Bush pai e o último chefe de Estado da União Soviética, Mikhail Gorbachov.
O Start-1, maior e mais complexo tratado de desarmamento de sempre que constituiu a “pedra de toque” do controlo de armas nucleares do pós Guerra Fria, expirou formalmente a 5 de Dezembro passado – tendo sido prorrogado uma vez que as duas partes não conseguiram firmar o seu sucessor atempadamente, apesar de tanto Moscovo como Washington definirem este objectivo como “crucial” no relançamento das relações entre os dois países.
Desde então, Estados Unidos e Rússia estão imersos em Genebra num moroso processo de negociações, sem ter sido para já alcançado nada de palpável, aparentemente devido à persistência de Moscovo em que a Casa Branca reponha na gaveta os planos de expandir para a Europa Central partes – radares de detecção e mísseis interceptores – do escudo, o qual ganhou a alcunha de “filho da guerra das estrelas” e foi projectado durante as administrações de George W. Bush, antecessor de Barack Obama.
Ontem, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, frisou que o novo START deve fixar de “forma juridicamente vinculativa” uma relação “entre as armas ofensivas e defensivas”, reiterando assim a oposição do Kremlin ao escudo dos Estados Unidos. Mas Clinton até à data sempre recusou firmar qualquer lógica de correlação entre o desarmamento nuclear bilateral e o escudo antimíssil.