Prateleiras inteligentes

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A cada momento pode saber-se onde está cada produto Adriano Miranda

A inovação não é perceptível ao olhar do cliente, mas poderá fazer toda a diferença.

A solução chama-se Surfaceslab, pioneira a nível mundial, e resume-se a prateleiras ou gavetas que funcionam como dispositivos de leitura dos produtos, através de uma estrutura de antenas embutidas. Superfícies inteligentes dirigidas ao mercado de retalho, a lojas de calçado, vestuário, livrarias e bibliotecas, os primeiros sectores seleccionados.

A Vicaima, líder nacional na produção de portas interiores, situada em Vale de Cambra, e a Creativesystems, que desenvolve soluções integradas de automatização e optimização de fluxos de informação, de São João da Madeira, juntaram-se para criar a Surfaceslab, cuja patente foi pedida há cerca de um ano.

As prateleiras e gavetas têm antenas escondidas, os produtos têm de ter uma etiqueta RFID (radio-frequency identification), identificação por rádio frequência, uma espécie de bilhete de identidade que torna cada objecto único - o que não acontece com um código de barras -, e há ainda um software que permite ao comerciante ter uma base de dados actualizada a cada instante.

A leitura dos produtos é feita num espaço confinado com a máxima fiabilidade - e esta é uma das principais inovações. O software não lê o que está na prateleira seguinte. Mas há mais. A cada momento é possível detectar o sítio exacto do produto, através de um desenho que aparece no ecrã do computador. E o recurso à tecnologia de leitura RFID torna a solução mais económica, uma vez que é necessário apenas um reader para ler um elevado número de superfícies. Um equipamento RFID pode estar ligado até 64 prateleiras.

Gerir em regime online

"Com esta solução, consegue-se saber onde está um determinado produto e em que prateleira. Uma das grandes vantagens é poder gerir o inventário de forma online", adianta Pedro França, gestor de negócios da Surfaceslab, agrupamento complementar de empresas, com capital social da Vicaima e da Creativesystems. "No final do ano, as lojas costumam fechar alguns dias para fazer o inventário, com esta solução basta carregar num botão para ter um inventário de todas as lojas", reforça o responsável.

A Surfaceslab abre assim novas perspectivas na gestão de stocks no formato de retalho. É possível verificar quantas vezes um produto é retirado de uma prateleira e é recolocado ou então mudado de sítio, quantas vezes é movimentado e não é comprado. E a reposição é imediata. "Quando um produto sai da prateleira é enviado um alerta para se fazer a reposição."

Pedro França garante que esta solução aumentará as vendas, permite poupar tempo e fazer estudos sobre um dado produto, e que não fica cara ao dono da loja. As prateleiras têm várias cores disponíveis - branco, preto, caramelo, chocolate, entre outras - e é possível produzir superfícies ao gosto do cliente. "Os preços das prateleiras dependem do tipo de projecto e das especificidades técnicas e decorativas. Como referência, considera-se que uma smart-shelf tem um preço unitário de 75 euros."

Pedro França não tem dúvidas: "Esta solução vai revolucionar o modelo de negócio do mercado de retalho. Será possível optimizar a cadeia logística com base nos dados e com o que existe na loja." Neste momento, estão a ser desenvolvidos cinco projectos, dois em Portugal e os restantes em Espanha, Inglaterra e Benelux, no retalho têxtil e de calçado, livrarias e bibliotecas. O alargamento a mais sectores económicos está, no entanto, dependente da utilização das etiquetas RFID. O gestor da Surfaceslab acredita que não demorará muito tempo para que esse método de identificação automática se dissemine sectorial e geograficamente. Feitas as contas, só no mercado europeu, a empresa espera facturar 40 milhões de euros dentro de ano e meio. Oitenta por cento do mercado das superfícies inteligentes ficará fora de Portugal. Europa, Brasil e Estados Unidos são os países debaixo de olho.

O sistema parece simples, mas envolveu três anos de investigação com a ajuda do pólo de Lisboa do Instituto de Telecomunicações. Durante esse tempo, foi gasto um milhão de euros. "É uma solução tecnológica que ficará paga, em termos de retorno de investimento, num prazo inferior a ano e meio", assegura Pedro França. No início deste mês, a Surfaceslab foi apresentada na CeBIT, a maior feira mundial no domínio das novas tecnologias de informações, na Alemanha, num stand de 24 metros quadrados. "A feira correu muito bem, tivemos muito sucesso, muita receptividade." Os contactos prosseguem.

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