Economia portuguesa corre risco de recessão técnica
Depois de dois trimestres consecutivos a crescer, ainda que ligeiramente, a economia portuguesa caiu 0,2 por cento nos últimos três meses do ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). As previsões que apontavam para uma estagnação na recta final do ano acabaram por ser revistas em baixa.
Para os economistas, o que mais preocupa é o significado desse risco. "Se a economia internacional continuar com problemas, então nós também continuaremos", afirma José Silva Lopes. E os dados do INE, segundo este economista citado pela agência Lusa, mostram que "sair da recessão está a ser mais difícil do que se esperava".
Também João Confraria situa as dificuldades portuguesas no "momento preocupante que a Europa atravessa" de uma "gestão no fio da navalha" da recessão, com interesses contraditórios no seu seio e a pressão dos mercados financeiros para os Governos acabarem com as medidas expansionistas. "Na Europa, está a tentar-se desmantelar os apoios artificiais [de resposta à crise de 2008] quando a recuperação económica ainda não tem bases sólidas", afirmou ao PÚBLICO. O economista considera que a UE está hoje dividida entre alemães, suecos e holandeses a defenderem uma moeda forte para as suas exportações e, do outro lado, os países do Sul, incluindo a França, com o "problema contrário". Em contraste, os EUA estão aparentemente dispostos a "iniciar um processo inflacionista para desvalorizar o dólar". Relativiza ainda a dimensão da queda verificada no último trimestre, por considerar que a margem de erro associada às previsões do crescimento económico, em termos estatísticos, é "muito grande".
Para João Duque, presidente do ISEG, a queda do investimento é o dado mais preocupante divulgado pelo INE. Segundo este, registou-se uma redução acentuada do investimento, uma redução moderada do consumo das famílias e um aumento do consumo das administrações públicas, ou seja, do Estado. "Esse factor pode ser a grande variável para ajudar a sair desta situação, mas não vejo ânimo, projectos ou iniciativa na actividade privada para relançar a economia", acrescentou, citado pela Lusa. "Existe o temor de Portugal ficar com valores de crescimento nulo ou abaixo de zero no semestre em curso, podendo até, se internacionalmente houver um cenário mais negativo, remergulhar numa quebra de actividade", sublinha.
Também João César das Neves considera que a queda do investimento é o aspecto mais significativo, mas que os dados revelam "não uma interrupção do crescimento, mas uma estagnação". "O que caiu desta vez é muito menor do que antes [2008], mas mostra a fragilidade da situação".
O ministro das Finanças admitiu que os números "não são simpáticos", mas sublinhou que a economia portuguesa foi "das que menos se contraíram em 2009", garantindo que não vai mexer na previsão para 2010, de 0,7 por cento de crescimento do PIB. Considera prematuro o cenário de uma nova recessão técnica na economia portuguesa.