Jack Rose: nem reverente, nem iconoclasta

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A música indiana e os blues, a tradição americana e o minimalismo dos anos 60, o conhecido e o desconhecido: eis Jack Rose em todos os seus estados

Jack Rose já não se encontra entre nós - faleceu em Dezembro, com 38 anos, vítima de um ataque cardíaco. "Luck in the Valley" é o seu disco póstumo e revela um músico cada vez mais interessado no repertório tradicional americano, do ragtime aos blues.

"Música é música e é sempre exploratória. Tanto Charley Patton como os Borbetomagus têm o mesmo efeito quando os estou a ouvir - ambos me transmitem sentimentos de raiva, tristeza, frustração, o que quer que seja. Ambos são inovadores e me soam contemporâneos".

Jack Rose disse isto, em 2005, ao então Y, o antecessor do Ípsilon. A frase, que convoca um "bluesman" e a banda mais feroz do free jazz e do noise rock, respectivamente, diz bem da abertura do músico americano a todas as músicas livres e genuínas.

Jack Rose já não se encontra entre nós - faleceu em Dezembro passado, com 38 anos, vítima de um ataque cardíaco. "Luck in the Valley", agora editado, é o seu disco póstumo e revela um músico cada vez mais interessado no repertório tradicional americano, do ragtime aos blues.

Também por causa dele, Rose será lembrado como um dos mais importantes músicos da nova geração de guitarristas inspirados pela editora Takoma, de John Fahey e Robbie Basho, cujo catálogo inclui Glenn Jones, Harris Newman e, dependendo dos discos, Ben Chasny (Six Organs of Admittance) e Sir Richard Bishop.

Numa outra entrevista, já em 2008, aquando de uma vida a Portugal, Rose dizia, desafiado a comentar o título de um disco seu, "I do play rock and roll", que se via como um praticante de rock. "É assim que eu me vejo, não sei como me vêem as outras pessoas. Podem rotular-me de folk, mas para mim a folk é uma música rural, que se pode ouvir na 'Anthology Of American Folk Music', por exemplo".

Antes de se aventurar a solo, Jack Rose começou a deixar marcas nos Pelt, ainda activos. Desde os anos 90 que o grupo homenageia o som contínuo e eterno, seja com guitarras eléctricas em catarse (no início da carreira) ou com taças tibetanas, harmónios e guitarra acústica. Nos Pelt, "new weird americans" antes de haver "New Weird America", e a solo, Rose uniu a música indiana com os blues, a tradição americana com o minimalismo dos anos 60, o conhecido com o desconhecido. Sem reverências, nem iconoclastias: este rapaz foi genuíno, e a isso só os grandes têm direito.

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