Fundação Saramago: Pilar del Rio contra polémica "rasca, absurda e estúpida"

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Responsável da fundação afirma que o imóvel estava a "cair de podre" Rui Gaudêncio

A presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, mostrou-se ontem indignada com as objecções levantadas à instalação da instituição na Casa dos Bicos, em Lisboa.

Foi o vereador António Carlos Monteiro (CDS-PP) quem começou por contestar o processo. Quer por causa dos custos envolvidos na adaptação do imóvel municipal às novas funções - a suportar pela câmara, proprietária do imóvel, e que dispararam dos 545 mil euros previstos para 2,2 milhões -, quer por o município não ter lançado um concurso público para a empreitada. O autarca põe ainda em causa a capacidade financeira da fundação para suportar os elevados custos de manutenção da Casa dos Bicos."O edifício estava a cair de podre e até hoje ninguém se preocupou com esse facto", reage Pilar del Rio, mulher do prémio Nobel. "Foi um milagre um pedaço dele não ter atingido ninguém que fosse a passar ali ao pé. Mas agora que José Saramago lá vai colocar o seu espólio à disposição de todos é que se preocupam?", questiona. "A Casa dos Bicos encontrava-se numa situação infame", repete a presidente da fundação, que por enquanto está instalada na Av. Almirante Gago Coutinho. "Perguntem aos arquitectos que estão a trabalhar no projecto [de adaptação do edifício], que até infiltrações encontraram."
Para Pilar del Rio, a polémica levantada pelo CDS-PP em torno da cedência da Casa dos Bicos à fundação é "rasca, absurda e estúpida". Quanto à forma como a fundação irá ocupar os cinco pisos do imóvel classificado e ao seu plano de actividades, questões também levantadas pelo vereador, a responsável remete para o site da fundação (http://www.josesaramago.org). Aqui se explica que ideia é que este seja um lugar não apenas de cultura mas de debate cívico no centro de Lisboa, com encontros literários, apresentações de livros, recitais, projecções de cinema não comercial e exposições.
O pilar da fundação
Faz um ano que Saramago frisou a importância de Pilar del Rio no desenvolvimento do projecto: "(...) é a vida da fundação que ela deverá proteger. Contra tudo e contra todos. Sem piedade, se necessário for." Meses mais tarde, o escritor conhecido pela sua militância comunista apoiou a recandidatura de António Costa à Câmara de Lisboa - um apoio que o vereador do CDS-PP faz questão de recordar quando menciona os 2,2 milhões de euros que a autarquia vai gastar na recuperação da Casa dos Bicos.
Depois de ter garantido, na passada semana, que as obras têm a obrigatória autorização do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), o autarca socialista esclareceu ontem que afinal ainda está à espera do parecer do organismo - o que, no seu entender, não é grave, uma vez que o projecto tem vindo a ser acompanhado pelos técnicos do instituto que tutela o património e os trabalhos ainda não arrancaram. O mesmo não se passa com a reabilitação da fachada do edifício, que "está concluída". Com ou sem parecer do Igespar? "Não sei dizer", respondeu o presidente da câmara lisboeta. "Se não teve parecer foi porque não era necessário. Não vale a pena fazer romances neste caso, porque não há aqui romance nenhum."

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