Moniz acredita que Governo tinha plano para controlar os media

"Houve um plano de tentativa de condicionamento da actuação de alguns meios de informação, alguns empresários e alguns jornalistas", apontou o jornalista, que enumerou pressões de Pais do Amaral, da administração da Prisa, de Sócrates e do também socialista António Costa. "Não tenho a mínima dúvida da influência do Governo sobre a Media Capital e da capacidade de intervenção sobre os seus administradores", realçou, voltando a citar o nome de António Vitorino como o elo de ligação com os espanhóis da Prisa.

Para Pais do Amaral, Moniz era, disse este, "um mal necessário" que servia apenas para garantir que a estação facturava e contou que as queixas de Sócrates sobre uma reportagem de um aterro (ver texto na pág. 9) fizeram com que fosse chamado a Pais do Amaral. Já António Costa, quando era ministro, interpelou a administração por causa de uma reportagem sobre o SIRESP e esta tentou que a jornalista mudasse o trabalho.

Segundo Moniz, a administração tinha "quatro alvos": ele próprio, Manuela Moura Guedes, Miguel Sousa Tavares e Marcelo Rebelo de Sousa. De Marcelo trataram quando Moniz estava fora do país, Tavares acabou por sair, Moura Guedes decidiu sair do ecrã, descreveu. Antes da compra da Prisa, "houve um conjunto de incidentes" em que Pais do Amaral pediu a "correcção da linha editorial e a cabeça" da ex-pivot.

Moniz defendeu a filosofia da informação da TVI - "desalinhada, independente e desprendida dos poderes". O Jornal Nacional de Sexta, que tencionava "competir directamente com os semanários da imprensa", desenhou-o para si próprio, especificou, recusando críticas sobre o estilo comentador da pivot e, contrariando Rui Pedro Soares, garantiu que, "em nenhuma circunstância, uma decisão para afastar Manuela Moura Guedes" teria o seu aval.

O agora vice-presidente da Ongoing Media relatou as contínuas pressões dos administradores da Prisa para mudar o estilo de informação, que passou também pela criação da figura do director de Informação, as tentativas de interferência através de Bernardo Bairrão (quando este subiu a administrador) e que ele tentava contornar. Mas vincou não ter quaisquer queixas do socialista Pina Moura, que apelidou de "amortecedor de embates", ao passo que o resto da administração o considerava "um obstáculo".

Moniz contou que a 23 de Junho, já depois das confusões sobre se concorria ou não à presidência do Benfica, em plena polémica sobre a compra depois abortada da TVI pela PT, reuniu-se com Zeinal Bava, que lhe contou sobre as negociações e lhe pediu que "desse o contributo para a Media Capital e a PT". Moniz recusou, mas acredita que Bava o fez com o consentimento da Prisa, que na altura planeava já rescindir com o director-geral, mantendo-o como consultor com boa parte das suas competências, mas sem a informação. A solução foi a rescisão, em Julho.

Rejeitando ter saído "da TVI pela porta para entrar pela janela", Moniz disse que ficou acordado com a Ongoing, que entretanto se propôs comprar a Media Capital, que não se relacionará com o grupo de Queluz enquanto lá estiver a Prisa.

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