Desastre anunciado e fim de ciclo para alguns jogadores, Jesualdo e um modelo de gestão

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O FC Porto perdeu pela sétima vez em Londres Eddie Keogh/Reuters

1. Na noite em que se perfaziam seis anos que o FC Porto surpreendeu o Manchester com um golo tardio de Costinha e arrancou para a aventura que o levaria à vitória em Gelsenkirchen, ficou provado que Londres é uma cidade maldita para a equipa portista, derrotada que foi na capital inglesa pela sétima vez em outros tantos jogos. Ficou ainda demonstrado que o Emirates Stadium é um local perigoso para Jesualdo Ferreira. Em Setembro de 2006, pouco tempo depois de assumir a liderança do campeão português, perdeu ali frente ao Arsenal por 2-0. Igualmente em Setembro, mas de 2008, os números da derrota subiram para 4-0, o que perfaz um score total de 11-0, contando com os 5-0 de ontem.

2. Ao contrário das duas anteriores viagens a Londres, Jesualdo não abdicou do 4x3x3. Resistiu também à tentação de insistir em Guarín. Mas não vai escapar à críticas por apostar em Nuno André Coelho para a posição seis, um jovem central que nunca tinha jogado naquela posição. Ao investir nos 192 centímetros (o mais alto dos portistas titulares) de quem soma zero minutos na liga portuguesa, Jesualdo quis precaver-se do jogo aéreo de Diaby, Campbell, Song e Bendtner. Mas o resultado foi desastroso, quase suicida. Nuno André Coelho funcionou mais como um terceiro central do que como pivot defensivo. Isso e a restante colocação das peças faziam com que o FC Porto desse um espaço enorme entre linhas, a pior forma de controlar o conhecido e inebriante "carrossel" arsenalista. Com isso, o FC Porto abdicou também de funcionar com normalidade na zona de construção, até porque Raul Meireles e Rúben Micael não davam conta do recado.

3. O 2-0 ao intervalo até era um resultado benigno, conseguido à custa das defesas de Helton. O guarda-redes foi adiando o descalabro de um sector que há muito entrou em colapso, como se percebeu nos erros de Rolando e Fucile nos golos. Jesualdo queixou-se do facto de o Arsenal ter jogado no erro do adversário e de ter marcado alguns golos em períodos em que o FC Porto até tentava reagir. Não deixa de ser verdade. Mas isso não tem nada a ver com sorte e azar. Mas sim com cultura táctica e instinto de sobrevivência.

4. A substituição ao intervalo foi bem vista. O FC Porto assumiu um sistema mais de acordo com as circunstâncias. Meireles recuou para a posição seis, acompanhado de perto por Micael, Varela encostou à direita, Rodriguez à esquerda (embora fechando no meio quando a equipa perdia a bola) e Hulk passou a jogar livre nas costas de Falcão. Uma distribuição que deu unidade ao FC Porto e coarctou a intensidade de jogo ao Arsenal. Mas Wenger percebeu o perigo. Tirou Rosicky e colocou à frente de Sagna outro defesa direito (Eboué). E o jogo acabou logo depois com a jogada "maradoniana" de Nasri.

5. A goleada não foi um acidente daqueles em que o futebol por vezes é fértil. Foi um desastre anunciado e o fim de um ciclo. Para vários jogadores, para Jesualdo e eventualmente até para uma forma arriscada de gestão.

(bprata@publico.pt)

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