Uma casa com pássaros dentroUma casa com pássaros dentro

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Na Casa da Cisterna há quartos com lareira, uma cama com vista para as estrelas e ninhos nos parapeitos. ?Ana Pedrosa (texto) e António Sá (fotos) seguiram o cheiro a bolo acabado de fazer e descobriram um refúgio acolhedor em Castelo RodrigoNa Casa da Cisterna há quartos com lareira, uma cama com vista para as estrelas e ninhos nos parapeitos. ?Ana Pedrosa (texto) e António Sá (fotos) seguiram o cheiro a bolo acabado de fazer e descobriram um refúgio acolhedor em Castelo Rodrigo

O GPS tem destas coisas. Em vez de nos guiar pelo traçado aconselhável por vias principais, resolveu que deveríamos cortar quilómetros (mas não tempo) através de estradas secundárias e povoações sonolentas, campos de onde nos diziam adeus, longas rectas entre muros seguidas de um poço de curvas, colinas agrestes entremeadas por bosques frondosos. Abençoada imperfeita tecnologia; se frequentemente a amaldiçoámos, nesse dia acabou por nos desvendar sítios belíssimos que nunca teríamos conhecido de outro modo. Várias vezes nos apeteceu tirar as bicicletas do tejadilho e seguir por aquelas veredas fora, mas a tarde chegava ao fim e havia um destino a cumprir.

Quando chegámos cheirava a bolo acabado de fazer; um odor quase visível, como nos desenhos animados da Looney Tunes, que seguimos escada acima até dar com o sorriso de dona Conceição, avozinha de filme também, de modos dóceis e mãos de fada na cozinha.

Ana Berliner entraria em cena logo a seguir, para nos mostrar os cantos da casa que usaríamos como se fosse nossa durante três dias. Da sala onde se toma o pequeno-almoço avançámos para a sala de estar, com lareira para os dias frios, sofás confortáveis e biblioteca bem recheada de boa ficção, guias da natureza, muitos livros sobre a região, revistas de viagens e uma razoável selecção de DVD (incluindo filmes infantis) que se podem levar para ver no sossego do quarto.

Uma porta de vidro dá para um pequeno jardim relvado, com cadeiras e mantas a convidarem a leituras prolongadas, e uma rede junto a um canteiro de ervas aromáticas. Este há-de de ser o nosso poiso favorito, local de descanso após as incursões diárias, a ouvir o chilrear dos pássaros até o crepúsculo trazer o silêncio e a lua em quarto crescente.

Deus está nos detalhes

A Casa da Cisterna tem sete quartos. Dois deles ficam no edifício principal, outros dois têm porta para o jardim, enquanto os três mais recentes se agrupam na contígua casa Mikwéh. Todos decorados de forma diferente, todos semelhantes no conforto e comodidades, como acesso a Internet e TV por cabo, aquecimento central e ar condicionado. Desses, alguns têm ainda frigo-bar e leitor de DVD, ou, no caso do Noitibó, sala com lareira e cama em mezanino.

Clássicos, modernos ou minimalistas, todos eles são bonitos, mas é difícil não destacar o quarto da Coruja. Ambiente cálido, cama suspensa, clarabóias que permitem a entrada de luz natural durante o dia ou, quando o sol se põe, a observação do céu no conforto do edredão. E se a noite se encontrar enevoada nem assim deixaremos de ver estrelas: o tecto falso esconde um sistema de fibra óptica e tem furinhos que imitam constelações. Basta ligar o interruptor para a magia acontecer. Mais romântico é impossível.

Bióloga de formação e alfacinha de criação, Ana acabou por vir parar a Castelo Rodrigo, onde surgiu a ideia de dar vida à Casa da Cisterna, conciliando a arte de bem receber com outra paixão sua - a decoração de interiores. O que se destaca não é apenas o bom gosto, mas sobretudo a atenção aos detalhes. Há flores frescas por todo o lado (mesmo em recipientes tão invulgares como uma antiga leiteira), garrafas de vidro com água nos quartos, guardanapos de pano enfeitados de forma diferente todas as manhãs (flores secas, folhas de carvalho com bugalhos), ninhos apanhados no campo à solta pelos parapeitos.

Numa casa que tem tanto de rural como de cosmopolita, esculturas de artistas locais e velhas arcas de Miranda do Douro convivem com artigos trazidos dos quatro cantos do mundo, como a tapeçaria da Índia, o grande quadro a três dimensões que veio do Brasil ou a colecção de chapéus que enfeita as paredes do quarto Andorinhão. Há até um antigo trenó de madeira a fazer de mesa de apoio na sala de estar, que é bem provável que tenha sido companheiro de brincadeiras de um príncipe pertencente a uma das casas reais europeias. Se tiver curiosidade, peça que lhe contem esse relato de acasos.

A explicação dos pássaros

Aqui o dia começa à hora que quisermos: cedo, se formos do género madrugador, ou quando o sol já vai alto, se tivermos vindo para descansar. Sem horários definidos, o pequeno-almoço estará à espera quando estivermos prontos. O que não se espera dos hóspedes é que sejam frugais. Cada manhã há um bolo diferente feito pela avó Conceição, pão rústico, bola de azeite, vários tipos de méis e de compotas - abóbora com coco, banana, geleia de uva -, sumo de laranja acabada de espremer. Uma verdadeira refeição de rei, como manda o ditado.

A escolha do que fazer a seguir é igualmente variada. Estamos às portas do Parque Natural do Douro Internacional com seus miradouros e paisagens de cortar a respiração; o cenário vinhateiro de Foz Côa e os cruzeiros no Douro a partir de Freixo de Espada à Cinta ficam a uns meros 40 quilómetros; enquanto que os trilhos à volta da vizinha Barragem de Almofala são ideais para caminhadas e percursos de BTT, disponíveis na casa para aluguer.

Se preferir uma actividade mais original, então inscreva-se numa aula de birdwatching. Com Ana a guiar-nos por lugares que tão bem conhece, teremos lições de como reconhecer a silhueta de um grifo a planar nas correntes aéreas ou o planar característico de um falcão. Um novo mundo abre-se perante os nossos sentidos, quando conseguimos ver uma cegonha negra, vislumbrar pelos binóculos o perfil de um abutre-do-Egipto ou apreciar as cores dos chapins, e aprendemos a distinguir o canto de um rouxinol do pio de uma carriça.

E depois há também os passeios em burros de raça mirandesa, criados num terreno das cercanias, habituados a conduzir famílias pelas sendas dos lameiros, entre freixos e arbustos de rosas bravas.

Deixe a visita pelas vielas de Castelo Rodrigo para o fim da tarde, quando a luz rasante cria sombras de campanários nas paredes de pedra. O povoado é pequeno, percorre-se num instante, mas há tanto para ver se estivermos atentos. Das ruínas do castelo ao átrio da capela, com o planalto de Ribacôa aos pés, passamos por jardins inesperados em cada pedaço de terra livre, lírios a crescer em penedos, figueiras a despontar de casas em desalinho e hortas viçosas a prosperar num par de metros. Ziguezagueie por ali à toa, até deparar com a cisterna muçulmana que dá nome à casa. E então abra a porta para regressar ao ninho.O GPS tem destas coisas. Em vez de nos guiar pelo traçado aconselhável por vias principais, resolveu que deveríamos cortar quilómetros (mas não tempo) através de estradas secundárias e povoações sonolentas, campos de onde nos diziam adeus, longas rectas entre muros seguidas de um poço de curvas, colinas agrestes entremeadas por bosques frondosos. Abençoada imperfeita tecnologia; se frequentemente a amaldiçoámos, nesse dia acabou por nos desvendar sítios belíssimos que nunca teríamos conhecido de outro modo. Várias vezes nos apeteceu tirar as bicicletas do tejadilho e seguir por aquelas veredas fora, mas a tarde chegava ao fim e havia um destino a cumprir.

Quando chegámos cheirava a bolo acabado de fazer; um odor quase visível, como nos desenhos animados da Looney Tunes, que seguimos escada acima até dar com o sorriso de dona Conceição, avozinha de filme também, de modos dóceis e mãos de fada na cozinha.

Ana Berliner entraria em cena logo a seguir, para nos mostrar os cantos da casa que usaríamos como se fosse nossa durante três dias. Da sala onde se toma o pequeno-almoço avançámos para a sala de estar, com lareira para os dias frios, sofás confortáveis e biblioteca bem recheada de boa ficção, guias da natureza, muitos livros sobre a região, revistas de viagens e uma razoável selecção de DVD (incluindo filmes infantis) que se podem levar para ver no sossego do quarto.

Uma porta de vidro dá para um pequeno jardim relvado, com cadeiras e mantas a convidarem a leituras prolongadas, e uma rede junto a um canteiro de ervas aromáticas. Este há-de de ser o nosso poiso favorito, local de descanso após as incursões diárias, a ouvir o chilrear dos pássaros até o crepúsculo trazer o silêncio e a lua em quarto crescente.

Deus está nos detalhes

A Casa da Cisterna tem sete quartos. Dois deles ficam no edifício principal, outros dois têm porta para o jardim, enquanto os três mais recentes se agrupam na contígua casa Mikwéh. Todos decorados de forma diferente, todos semelhantes no conforto e comodidades, como acesso a Internet e TV por cabo, aquecimento central e ar condicionado. Desses, alguns têm ainda frigo-bar e leitor de DVD, ou, no caso do Noitibó, sala com lareira e cama em mezanino.

Clássicos, modernos ou minimalistas, todos eles são bonitos, mas é difícil não destacar o quarto da Coruja. Ambiente cálido, cama suspensa, clarabóias que permitem a entrada de luz natural durante o dia ou, quando o sol se põe, a observação do céu no conforto do edredão. E se a noite se encontrar enevoada nem assim deixaremos de ver estrelas: o tecto falso esconde um sistema de fibra óptica e tem furinhos que imitam constelações. Basta ligar o interruptor para a magia acontecer. Mais romântico é impossível.

Bióloga de formação e alfacinha de criação, Ana acabou por vir parar a Castelo Rodrigo, onde surgiu a ideia de dar vida à Casa da Cisterna, conciliando a arte de bem receber com outra paixão sua - a decoração de interiores. O que se destaca não é apenas o bom gosto, mas sobretudo a atenção aos detalhes. Há flores frescas por todo o lado (mesmo em recipientes tão invulgares como uma antiga leiteira), garrafas de vidro com água nos quartos, guardanapos de pano enfeitados de forma diferente todas as manhãs (flores secas, folhas de carvalho com bugalhos), ninhos apanhados no campo à solta pelos parapeitos.

Numa casa que tem tanto de rural como de cosmopolita, esculturas de artistas locais e velhas arcas de Miranda do Douro convivem com artigos trazidos dos quatro cantos do mundo, como a tapeçaria da Índia, o grande quadro a três dimensões que veio do Brasil ou a colecção de chapéus que enfeita as paredes do quarto Andorinhão. Há até um antigo trenó de madeira a fazer de mesa de apoio na sala de estar, que é bem provável que tenha sido companheiro de brincadeiras de um príncipe pertencente a uma das casas reais europeias. Se tiver curiosidade, peça que lhe contem esse relato de acasos.

A explicação dos pássaros

Aqui o dia começa à hora que quisermos: cedo, se formos do género madrugador, ou quando o sol já vai alto, se tivermos vindo para descansar. Sem horários definidos, o pequeno-almoço estará à espera quando estivermos prontos. O que não se espera dos hóspedes é que sejam frugais. Cada manhã há um bolo diferente feito pela avó Conceição, pão rústico, bola de azeite, vários tipos de méis e de compotas - abóbora com coco, banana, geleia de uva -, sumo de laranja acabada de espremer. Uma verdadeira refeição de rei, como manda o ditado.

A escolha do que fazer a seguir é igualmente variada. Estamos às portas do Parque Natural do Douro Internacional com seus miradouros e paisagens de cortar a respiração; o cenário vinhateiro de Foz Côa e os cruzeiros no Douro a partir de Freixo de Espada à Cinta ficam a uns meros 40 quilómetros; enquanto que os trilhos à volta da vizinha Barragem de Almofala são ideais para caminhadas e percursos de BTT, disponíveis na casa para aluguer.

Se preferir uma actividade mais original, então inscreva-se numa aula de birdwatching. Com Ana a guiar-nos por lugares que tão bem conhece, teremos lições de como reconhecer a silhueta de um grifo a planar nas correntes aéreas ou o planar característico de um falcão. Um novo mundo abre-se perante os nossos sentidos, quando conseguimos ver uma cegonha negra, vislumbrar pelos binóculos o perfil de um abutre-do-Egipto ou apreciar as cores dos chapins, e aprendemos a distinguir o canto de um rouxinol do pio de uma carriça.

E depois há também os passeios em burros de raça mirandesa, criados num terreno das cercanias, habituados a conduzir famílias pelas sendas dos lameiros, entre freixos e arbustos de rosas bravas.

Deixe a visita pelas vielas de Castelo Rodrigo para o fim da tarde, quando a luz rasante cria sombras de campanários nas paredes de pedra. O povoado é pequeno, percorre-se num instante, mas há tanto para ver se estivermos atentos. Das ruínas do castelo ao átrio da capela, com o planalto de Ribacôa aos pés, passamos por jardins inesperados em cada pedaço de terra livre, lírios a crescer em penedos, figueiras a despontar de casas em desalinho e hortas viçosas a prosperar num par de metros. Ziguezagueie por ali à toa, até deparar com a cisterna muçulmana que dá nome à casa. E então abra a porta para regressar ai ninho.Casa da Cisterna

Rua da Cadeia - Castelo Rodrigo

Tel.: 917 618 122

271 313 515

GPS: 40º52"583"" N 6º57"884"" W

www.wonderfulland.com

cisterna

O preço do quarto duplo varia entre os 65 ? e os 115?, dependendo do tipo de quarto escolhido. Nas noites de fim-de-semana ?(sexta e sábado), mês de Agosto e épocas festivas, o preço por noite tem um acréscimo de 10?. O berço para crianças até três anos custa 5? e a cama extra 25?.Como ir

Vindo de Lisboa siga a A1 até Torres Vedras, continuando pela A23 até à Guarda. A partir daí siga pela A25 na direcção de Vilar Formoso, até à saída 32, com indicações para Almeida. Continue pela N332 em direcção a Figueira de Castelo Rodrigo. Um pouco antes de chegar a esta localidade encontrará placas que indicam a estrada de acesso à povoação de Castelo Rodrigo. Se vier do Porto, a melhor opção é vir pela A1 até Albergaria e continuar pela A25, seguindo depois as mesmas indicações.

Onde comer

O Beirão, em Escarigo, é um café-restaurante simples, de beira da estrada, onde se come melhor do que à primeira vista parece. Se andar pelos lados da Barragem de Almofala pare por ali ao almoço, para um suculento prego no prato, ou uma sopa acompanhada pelos petiscos disponíveis na altura. Para jantar recomendamos O Lagar, em Escalhão (tel. 271 346 974). Aquecido por uma grande lareira instalada a meio da sala, serve pratos como o polvinho no forno, bacalhau afogado em azeite ou arroz de costelinhas em vinha d"alho.Para um chá às cinco, ou um copo de vinho acompanhado por um pratinho de queijo e amêndoas torradas ao fim da tarde, nada melhor que a sombra das oliveiras da esplanada Sabores do Castelo, com uma fabulosa vista da área, a dois passos da casa da Cisterna.

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