Investigadores do Face Oculta intrigados com mudanças nas escutas sobre a TVI

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As escutas relativas a este último período terão estado na base de pelo menos um dos despachos do PGR Carlos Lopes (arquivo)

Os investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro ficaram intrigados com as mudanças que ocorreram no discurso sobre o negócio da compra da TVI pela PT e que coincidem com uma reunião que teve lugar na Procuradoria-Geral da República que contou com a presença de Pinto Monteiro, do procurador Marques Vidal e do procurador distrital de Coimbra Braga Themido, noticia a “Sábado”.

De acordo com a revista, no dia 24 de Junho de 2009 houve uma reunião na Procuradoria-Geral da República e a partir de dia 25 de Junho as escutas feitas no âmbito do processo Face Oculta revelam uma mudança de discurso dos intervenientes, em especial no que diz respeito ao negócio da PT e da TVI. As escutas relativas a este último período terão estado na base de pelo menos um dos despachos de Pinto Monteiro, com data de 18 de Novembro de 2009.

Estas datas coincidem também com a altura em que alguns dos arguidos, nomeadamente Armando Vara e Manuel José Godinho, mudaram de telemóvel ou começaram a utilizar cartões diferentes. A revista avança também que o Departamento de Investigação e Acção Penal de Coimbra está a investigar as eventuais fugas de informação nesta fase da investigação e que poderão ter comprometido o caso.

Numa escuta gravada a 25 de Junho Rui Pedro Soares, administrador da PT que recentemente apresentou a demissão, garante que conversou com o primeiro-ministro sobre o negócio da compra da TVI e assegura mesmo que José Sócrates estaria furioso por não ter sido informado antes. A conversa, que aconteceu com o advogado Paulo Penedos mostra que, ao contrário do que tinha vindo a afirmar nas escutas anteriores, José Sócrates só então tomou conhecimento das intenções de negócio da operadora de telecomunicações. Na conversa, Soares diz a Penedos que se deviam encontrar com o presidente da comissão executiva da PT, Zeinal Bava, antes de este dar uma entrevista a Judite de Sousa na RTP para confirmar o interesse na TVI.

Contudo, a 24 de Junho, numa conversa com o seu amigo Lopes Barreira, Armando Vara, antigo vice-presidente do BCP, afirma que ninguém poderia acreditar que o primeiro-ministro não estava a par do negócio. A 21 de Junho Vara fora também escutado numa conversa com Rui Pedro Soares onde informou o na altura administrador que seriam eles a controlar a TVI e que era muito importante responder ao pedido do primeiro-ministro.

Esquema de Moniz

Já a 27 de Junho Rui Pedro Soares diz a Penedos que José Eduardo Moniz estava a montar uma cilada em torno da compra da TVI, afirmando que o director-geral da estação de televisão estava a negociar com a PT ao mesmo tempo que manifestava junto da Prisa a sua vontade de largar o canal e a colocar a par do negócio Belém e a presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite. A 7 de Julho, Soares volta a falar do suposto jogo triplo de Moniz e a garantir que Ferreira Leite era das pessoas que mais sabia do negócio e que até deveria apoiar a compra numa entrevista que efectivamente chegou a dar mas na qual manifestou uma posição contrária.

A Polícia Judiciária desencadeou a 28 de Outubro de 2009 a operação Face Oculta em vários pontos do país, no âmbito de uma investigação relacionada com alegados crimes económicos de um grupo empresarial de Ovar que integra a O2-Tratamento e Limpezas Ambientais, a que está ligado Manuel José Godinho.

No decurso da operação foram efectuadas cerca de 30 buscas, domiciliárias e a postos de trabalho, e pelo menos 18 pessoas foram constituídas arguidas, incluindo Armando Vara, ex-ministro socialista e vice-presidente do BCP, que suspendeu as funções, José Penedos, presidente da REN - Redes Eléctricas Nacionais, que o tribunal suspendeu de funções, e o seu filho Paulo Penedos, advogado da empresa SCI-Sociedade Comercial e Industrial de Metalomecânica SA, de Manuel José Godinho.

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