Torne-se perito

PS envolve Cavaco e leva ao Parlamento o caso das alegadas escutas a Belém

Os socialistas não querem deixar o Presidente da República fora das audições parlamentares sobre a liberdade de expressão. Agora vale tudo, argumentam

O PS e o Governo estão apostados em aproveitar as audições parlamentares relativas à liberdade de expressão e ao alegado plano governamental para controlar os media para abrir uma nova frente de conflito com a Presidência da República. A tentativa de envolver Belém traduz-se na lista de pessoas que os socialistas querem ouvir no Parlamento e que será aprovada esta manhã, na reunião da comissão de Ética, com os votos favoráveis do Bloco de Esquerda (BE) e do PCP.

O PS quer reabrir o caso da alegada vigilância do Governo a Belém e vai propor as audições dos jornalistas do PÚBLICO Tolentino de Nóbrega e Luciano Alvarez, dois dos autores das notícias que davam conta das "preocupações" da Presidência sobre a possibilidade de estar a ser vigiada. Os socialistas acrescentaram ainda à lista já divulgada na passada semana os nomes de Teresa de Sousa, jornalista do PÚBLICO, Lília Bernardes, correspondente do Diário de Notícias na Madeira, Luís Delgado, jornalista e comentador, Nuno Santos, director de programas da SIC, Augusto Santos Silva, ministro da Defesa e ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, e um representante do Conselho de Redacção do Diário de Notícias.

Fernando Lima vetado

A resposta dos socialistas às audições que começam hoje configura assim um contra-ataque a Belém e a tentativa de envolver Cavaco Silva no debate sobre as relações entre o poder político e a comunicação social. O nome de Fernando Lima, agora assessor político do Presidente da República, foi também proposto por deputados socialistas, mas acabou por ser vetado ontem, ao fim da tarde, numa reunião que serviu para decidir sobre os novos nomes da lista.

Este encontro serviu ainda para ultimar os preparativos para as audições, que, no grupo socialista, serão conduzidas por Isabel Oneto, vice-presidente da comissão de Ética, e por João Serrano, coordenador dos socialistas nesta comissão. Nesta reunião participaram apenas o líder parlamentar do PS, Francisco Assis, e os deputados Inês de Medeiros, João Serrano e Miguel Laranjeiro.

A tentativa de reabrir o caso da alegada vigilância a Belém vai amplificar o clima de guerra surda entre Belém e São Bento, mas os socialistas estão dispostos a participar nesse combate, alegando que, perante os efeitos nefastos da divulgação das escutas do caso Face Oculta, a melhor resposta é uma ofensiva contra a Presidência da República. E essa ofensiva vai começar precisamente com a introdução no processo de audições da polémica criada pelas notícias do PÚBLICO sobre a eventual vigilância a Belém e pela publicação, no Diário de Notícias, de um alegado mail de um jornalista do PÚBLICO que referenciaria Fernando Lima como sua fonte.

Os socialistas estão, há vários dias, a fazer uma preparação intensiva para as audições, recolhendo um vasto conjunto de documentação publicada na imprensa. O objectivo, sustentam, é tentar provar que o Governo não tem qualquer plano de controlo sobre os media, procurando, em simultâneo, apertar o cerco a Cavaco Silva. Esta manhã, também o PSD vai tentar fazer aprovar a audição parlamentar de Francisco Pinto Balsemão, presidente da Impresa.

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