"Há um enorme défice de profissionalismo no futebol do Sporting", acusa Menezes Rodrigues

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Menezes Rodrigues crítico com a actual gestão leonina Enric Vives-Rubio (arquivo)

Duas derrotas para o campeonato e o adeus ao pódio classificativo; duas humilhantes goleadas frente aos rivais históricos e despedidas confrangedoras da Taça de Portugal e da Taça da Liga; um presidente de férias no Brasil e uma estrutura de futebol órfã, resumida a um solitário director interino. Tudo se passou em 12 dias. "Há um enorme défice de profissionalismo no futebol profissional do Sporting", defendeu ao PÚBLICO Menezes Rodrigues, ex-vice-presidente do Sporting na direcção de Soares Franco.

Para o actual membro do Conselho Leonino (órgão consultivo do clube), que chegou a equacionar uma candidatura presidencial nas últimas eleições, a actual estrutura da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) revela "uma grande pobreza de recursos e meios, de atitudes e de vontade", e pode ser questionada "em termos qualitativos".

Afastados dos títulos nas três competições internas, resta aos "leões" uma participação condigna na Liga Europa para minimizar os danos de uma das mais desastrosas temporadas da conturbada história recente do clube (ver texto em baixo). O balanço é francamente negativo e mereceria uma análise mais aprofundada por parte do Conselho Leonino, sugeriu Menezes Rodrigues: "Quando as coisas correm mal recorrentemente, é sinal que há qualquer coisa que não se ajusta. Quem conduz uma organização tem que ter uma visão prospectiva das coisas e de ter planos e soluções alternativos".

Oito meses depois da eleição de José Eduardo Bettencourt, com expressivos 89,43 por cento dos votos, a vida do primeiro presidente assalariado da história sportinguista tem sido tudo menos pacífica. Dos objectivos ambiciosos estabelecidos nos primeiros dias, sobrou a constatação da incapacidade da equipa de Alvalade em acompanhar as armas financeiras de Benfica e FC Porto. De Paulo Bento (forever) até Carlos Carvalhal decorreu apenas meio ano. E da estrutura do futebol, "capitaneada" por Miguel Ribeiro Telles, sobrou... José Eduardo Bettencourt.

E é precisamente esta vertente de "director desportivo" do líder sportinguista que levanta mais reservas a várias figuras do clube contactadas pelo PÚBLICO. Alguns suscitam, ironicamente, dúvidas sobre as reais funções do ex-bancário: um presidente responsável directo (e único) pelo pelouro do futebol ou um responsável do futebol, com o pelouro presidencial? Paulo de Andrade, antigo administrador executivo da SAD, não esconde alguma surpresa pelo "emagrecimento" da estrutura do futebol profissional, mas está particularmente preocupado com a saúde financeira da SAD.

"A estrutura que eu herdei na temporada de 2004-05 já era complicada. A SAD tinha muitas dívidas e salários em atraso", descreveu o gestor. Nas quatro temporadas seguintes, de acordo com Paulo de Andrade, os custos com os jogadores aumentaram substancialmente e, entre as épocas de 2005-06 e 2008-09, "houve um aumento de vários milhões de euros, ao contrário da imagem que se transmite para o exterior", assim como em 2008-09, quando a SAD voltou a ter "prejuízos avultados, na ordem dos 14 milhões de euros": "Francamente, estou muito pessimista em relação aos resultados desta época. Não acredito que os actuais responsáveis da SAD tenham outra solução que não seja vender alguns jogadores no final deste exercício".

Para Sousa Cintra, ex-presidente sportinguista (1989-95), a altura é de balanço, já que a época está perdida. Bem mais cáustico foi Sérgio Abrantes Mendes, ex-presidente da assembleia geral e ex-candidato presidencial: "Eduardo Bettencourt não tem o perfil certo". Mas, para este juiz conselheiro, as raízes do drama do "leão" encontram-se nos dirigentes que nortearam os destinos do clube nos últimos anos e em alguma ingenuidade dos sportinguistas. "Há um conjunto de pessoas no Sporting que são uns parolos. Ou seja, acreditam em tudo o que lhes contam, sobretudo quando essa mensagem é veiculada por pessoas bem instaladas na vida. Nunca fizeram nenhum exercício para questionar, por exemplo, os projectos megalómanos que foram lançados nos últimos anos no clube."

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