Human Rights Watch denuncia atrocidades na Colômbia

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Grupos como a Autodefesa Unida da Colômbia foram oficialmente desmantelados, mas a violência ligada a grupos paramilitares continua Jose Miguel Gomez/Reuters

Massacres. Deslocações forçadas. Violações. Os grupos que surgiram a partir de organizações paramilitares têm cometido inúmeras violações de direitos humanos na Colômbia hoje denunciadas num relatório da Human Rights Watch.

O documento apela ao Governo de Álvaro Uribe para que contenha a violência e promova medidas para combater esses grupos e apoiar as vítimas.

“O que quer que se chame a esses grupos – paramilitares, gangues ou qualquer outro nome - certo é que seu impacto nas violações de direitos humanos na Colômbia não deve ser minimizado”, defende José Manuel Vivanco, director da Human Rights Watch para as Américas. O relatório elaborado pela organização de defesa de direitos humanos tem como título “Herdeiros dos paramilitares: O novo rosto da violência na Colômbia” e denuncia, ao longo de 122 páginas, diversas atrocidades cometidas e o falhanço do Governo colombiano em desmantelar esses grupos.

O documento baseia-se em vários relatos, como o de Lucía, uma mulher que pediu para não ser identificada pelo nome mas que contou a violência a que foi submetida quando estava a apoiar uma mulher vítima das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), uma coligação de 37 grupos de paramilitares que, oficialmente, teria sido desmantelado em 2006. “Eu estava a aconselhar uma mulher. Estava a chover, estava longe dos autocarros e decidi passar a noite. Depois da meia-noite bateram à porta. Cinco homens de capuz entraram e começaram a interrogar-me sobre o meu trabalho. Disseram-me que era proibido dar aquele aconselhamento ali, não querem que as vítimas conheçam os seus direitos e denunciem os abusos. Antes de irem embora, dois dos homens abusaram sexualmente de mim e dela, durante muito tempo.”

Ao relato de Lucía juntam-se muitos outros. Segundo a Human Rights Watch, os grupos que nasceram após o falhado desmantelamento das organizações paramilitares na Colômbia têm cometido regularmente massacres e violações e obrigado a deslocações forçadas. Os alvos principais dessa violência são os activistas de direitos humanos, membros de sindicatos ou outras pessoas que têm denunciado as atrocidades cometidas.

O relatório resultou de dois anos de investigação e conclui que o impacto destes grupos no país “é brutal” e que entre as regiões mais afectadas estão a cidade de Medellín, a região de Urabá no estado de Choco e os estados de Meta e Nariño.

4000 membros

As estimativas mais conservadoras, feitas pela polícia colombiana, apontam para que estes grupos tenham cerca de 4000 membros, espalhados por 24 dos 32 departamentos da Colômbia, mas apesar de alguns líderes destes grupos terem sido detidos tem-se verificado o recrutamento de muitos novos membros, adianta a Human Rights Watch. “Estão a actuar rapidamente para renovar a sua liderança e expandir as áreas de actuação.”


Segundo a Human Rights Watch, o crescimento destes grupos coincidiu com o aumento do número de deslocados internos a nível nacional verificado entre 2004 e 2007. Em Medellín também houve, no ano passado, um aumento para o dobro do número de homicídios.

A organização de direitos humanos considera que a vaga de violência se deve ao facto de o Governo ter falhado no seu objectivo de desmantelar os grupos paramilitares e de crime organizado entre 2003 e 2006. “O Governo de Uribe não lidou com a emergência destes grupos com a seriedade que o problema exige”, adiantou Vivanco. “Foram tomadas algumas medidas para os conter, mas falharam os esforços para proteger os civis e investigar estes grupos.”

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